Mostra do Cinema da USP exibe os conflitos da maternidade

Até 29 de setembro, “Maldito Seja o Fruto” reúne filmes e séries que desconstroem a imagem da mãe perfeita

 02/09/2019 - Publicado há 5 anos
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Cena de Precisamos Falar sobre Kevin, de Lynne Ramsay – Foto: Divulgação / Cinusp

Questões como aborto, depressão pós-parto e abandono são dramas vividos também pela maternidade, e agora esses dramas são aprofundados na mostra Maldito Seja o Fruto, que o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) exibe até 29 de setembro, em sessões gratuitas de segunda a sexta-feira, na Cidade Universitária, e aos sábados e domingos, no Centro Universitário Maria Antonia, na Vila Buarque, região central da capital. São filmes e seriados que analisam os conflitos das mães através de narrativas que usam desde o extremo realismo à fantasia sobrenatural, incluindo dois debates. Segundo os curadores Davi Morales e Isabel Francesca de Almeida Blitler, a mostra traz diferentes problemáticas da maternidade. “É um novo olhar sobre a maternidade, sempre do ponto de vista da mãe, mas sem pré-julgamentos”, explica Morales.

Rebento, primeiro filme do diretor André Morais, faz pré-estreia na mostra do Cinema da USP – Foto: Divulgação / Cinusp

A mostra traz a pré-estreia do paraibano Rebento (2018), primeiro filme do diretor André Morais, premiado no Diorama International Film Festival, em Nova Delhi, na Índia, e no Festival Internacional de Cinema Independente, em São Paulo, e integra a seleção oficial do 6º Festival de Cinema Latino-Americano de Caruaru (PE). Rodado no sertão da Paraíba, o filme conta a história de uma mulher que comete um crime contra seu filho recém-nascido e depois disso abandona casa e família, mostrando sua jornada e como ela lida com o luto pelo filho.

Entre os destaques da mostra está Sonata de Outono (França/Alemanha Ocidental/Suécia, 1978), única parceria do cineasta sueco Ingmar Bergman e da atriz, também sueca, Ingrid Bergman, que não tinham nenhum parentesco, apesar do mesmo sobrenome. O filme aborda o embate entre os desejos por uma vida profissional e o papel de mãe. O tema será objeto de um debate, que acontecerá no dia 16, às 19 horas, com a professora Marina Ribeiro, do Instituto de Psicologia da USP, discutindo a transmissão da feminilidade entre mãe e filha, ou, no caso, o que acontece nessa transmissão quando há ausência da mãe.

Tully, de Jason Reitman, com Charlize Theron, aborda o estresse de uma mulher que é mãe de três filhos – Foto: Divulgação / Cinusp

O segundo debate da mostra acontece à luz do filme Tully (Estados Unidos, 2018), de Jason Reitman, longa que aborda o estresse de uma mãe, mesmo em uma família considerada “normal” – com mãe, pai e filhos. A responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos fica exclusiva para a mulher (Charlize Theron), que está em sua terceira gravidez, e recebe a ajuda de uma babá (Mackenzie Davis) para cuidar das crianças durante a noite. A análise do filme acontece logo após a sessão, no dia 25, às 19 horas, com Rachele Ferrari, psicanalista e doutoranda em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP, onde desenvolve a tese Sofrimento psíquico na experiência da maternidade.

A seleção inclui, em sua maioria, filmes dirigidos por mulheres. Exibidos em sequência, o curta Wasp (2003) e o longa Rua Arbor (2010) são dirigidos por duas inglesas, respectivamente Andrea Arnold e Clio Barnard. O primeiro é um drama que mostra as dificuldades de uma jovem mãe que vê sua juventude perdida bater na porta ao reencontrar um ex-namorado. Já o segundo é um documentário ensaístico sobre a trágica história da dramaturga inglesa Andrea Dunbar e sua família.

De Lynne Ramsay, a mostra apresenta Precisamos Falar sobre Kevin (Estados Unidos/Inglaterra, 2011). O filme mostra uma mãe, Eva, que coloca de lado sua carreira para dar à luz Kevin. “O relacionamento entre mãe e filho é difícil desde seus primeiros anos. Porém, após Kevin cometer um crime hediondo, Eva precisa lidar com um sentimento profundo de tristeza e responsabilidade, refletindo sobre a própria criação do filho e sua relação com o crime”, segundo a sinopse da produção.

O russo Ayka, de Sergey Dvortsvoy, estreou no Festival de Cannes e levou o prêmio de Melhor Atriz (Samal Esljamova) – Foto: Divulgação / Cinusp

Os direitos de escolha da mulher sobre sua gestação e de interrompê-la são o assunto do filme romeno 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), de Cristian Mungiu, uma odisseia situada nos anos 80, quando o aborto era passível de pena de morte. Ainda sobre a recusa da maternidade, o russo Ayka (2018), de Sergey Dvortsvoy, retrata o drama de uma imigrante ilegal que abandona o filho no hospital, mas mafiosos, a quem deve dinheiro, exigem que ela recupere o recém-nascido e o entregue a eles.

Prevenge, de Alice Lowe, que roteirizou e atuou no filme durante a própria gravidez – Foto: Divulgação / Cinusp

Os curadores ainda destacam a exibição de Prevenge (Reino Unido, 2016), de Alice Lowe, que também atua e roteiriza o filme, durante sua própria gravidez. O filme aborda, com o típico humor ácido britânico, a inferiorização sofrida pela gestante e o sentimento de ser mãe solteira. Tratada como incapaz por todos, a protagonista surpreende ao trilhar uma jornada de assassinatos, guiada pela suposta voz do filho em sua barriga.

Hereditário, de Ari Aaster, cria um ambiente de terror com sua trilha sonora e elementos narrativos – Foto: Divulgação / Cinusp

Na mesma linha do sobrenatural, Hereditário (Brasil, 2018), de Ari Aaster, trata da criação abusiva e o transtorno causado aos filhos. A trama começa com a revelação de segredos logo após a morte da matriarca da família Graham, que durante a vida inteira foi reclusa. O filme cria um ambiente com trilha sonora e elementos narrativos que trazem o terror. “Através do sobrenatural, é possível criar diálogos sobre questões que preferimos ignorar na vida real”, afirma o curador Davi Morales, citando outros dois filmes presentes na mostra, O Bebê de Rosemary (Estados Unidos, 1969), de Roman Polanski, e Babadook (2014), primeiro filme escrito e dirigido pela australiana Jennifer Kent.

A série The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia) terá sua primeira temporada completa exibida no Cinema da USP, dividida em dois dias – Foto: Divulgação / Cinusp

O público ainda pode conferir uma maratona da primeira temporada de The Handmaid’s tale (O Conto da Aia), dividida em dois dias. Baseada na obra de Margareth Atwood, a série acaba de encerrar a sua terceira temporada. O Cinusp exibe os dez episódios iniciais, oito deles dirigidos por mulheres. Alguns filmes, mesmo com imagens fortes, apresentam argumentos contundentes para criar indagações sobre a devoção, decisão e propósito da maternidade, buscando diferentes perspectivas sobre os objetivos individuais de vida dessas pessoas. Também será exibido o documentário da HBO Mamãe Morta e Querida, um caso de violência psicológica que fez a filha matar a mãe, chocando os Estados Unidos.

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A mostra Maldito Seja o Fruto, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), começou no dia 31 de agosto e vai até 29 de setembro, com sessões de segunda a sexta-feira, às 16 e às 19 horas, no Cinusp (Rua do Anfiteatro, 181, Colmeias, favo 4, Cidade Universitária, em São Paulo), e aos sábados e domingos, às 18 e às 20 horas, no Centro Universitário Maria Antonia da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, em São Paulo). Entrada grátis. A programação completa da mostra está disponível neste link


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