A luta das mulheres contra a opressão completa 50 anos

O livro “Gênero e Feminismos”, lançado pela Edusp, faz um balanço dos desafios na Argentina, Brasil e Chile

 19/03/2020 - Publicado há 5 anos
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Mulheres contra a ditadura – Foto: Divulgação

 

“Nenhuma mulher de qualquer grupo social escapa à violência. Depois de denunciá-la por décadas, o que se viu não foi a redução da violência, mas a modernização dos instrumentos de denúncia como internet e televisão”, observa Eva Alterman Blay, professora do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), fundadora do Centro de Estudos de Gênero e dos Direitos da Mulher da Universidade de São Paulo e ex-senadora por São Paulo, de 1992 a 1995. Em um balanço sobre os desafios da luta pelos direitos da mulher, a socióloga é uma das organizadoras do livro Gênero e Feminismos: Argentina, Brasil e Chile, lançado pela Edusp – junto com as professoras e pesquisadoras Lúcia Avelar, do Centro de Estudos de Pesquisa e Opinião Pública da Universidade Estadual de Campinas, e Patrícia Rangel, pós-doutora pelo Departamento de Sociologia da FFLCH.

“Uma experiência sintética a respeito desses cinquenta anos na Argentina, no Brasil e no Chile mostra que, no começo do período, nas décadas de 1960 a 1970, ele foi dominado por ditaduras militares. Superando-as, na redemocratização, três mulheres foram eleitas para a presidência da República: Dilma Rousseff, Michelle Bachelet e Cristina Kirchner”. Eva Blay — que também dirigiu o escritório USP Mulheres — ressalta, no entanto, a situação em que Rousseff e Kirchner deixaram o governo. “Rousseff foi alijada do posto e Kirchner saiu do governo sob gravíssimas acusações. Em pleno período democrático, Bachelet se manteve na presidência, mas a presença de mulheres nos cargos de poder teve redução considerável.”

 

Eva Blay quando recebeu o título de Professora Emérita, em outubro de 2018, da Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – Foto: Victoria Golfetti

 

No Brasil, atualmente, as mulheres ocupam menos de 10% dos cargos na Câmara: apenas 45 deputadas contra um total de 486…”

 

Paulistana, Eva Blay, 82 anos, é pioneira nos estudos sobre a mulher e as relações de gênero. Em outubro de 2018, recebeu o título de Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Na cerimônia, a diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda, fez questão de destacar que Eva Blay foi a primeira mulher que ocupou, em 1989, o cargo de professora titular no Departamento de Sociologia.

Outro momento na trajetória de Eva Blay foi quando se tornou senadora em substituição a Fernando Henrique Cardoso. Ocupou o cargo de 1992 a 1995, porém, não concorreu mais a nenhum cargo eletivo. No livro Gênero e Feminismos, Eva Blay pontuou: “No Brasil, atualmente as mulheres ocupam menos de 10% dos cargos na Câmara: apenas 45 deputadas contra um total de 468, e no Senado as mulheres são 11 em um total de 81 senadores, ou seja, 13,6%.”

Mães da Praça de Maio, na Argentina – Fonte: Ecllesia

A professora ressalta que na área municipal os resultados são modestos. “As eleições de 2016 mostraram que houve uma redução de mulheres na política local, justamente naqueles municípios em que a população tem maior proximidade com seus governantes.”

Ao analisar as conquistas das mulheres dos últimos 50 anos, Eva Blay destaca os papéis dos movimentos sociais femininos e das feministas organizadas para o rompimento ditatorial no País. “Dentre eles, foram marcantes pela coragem e visibilidade pública o Movimento Feminino pela Anistia, em seguida ampliado nacionalmente como o Movimento Brasileiro pela Anistia.”

Gênero e Feminismos: Argentina, Brasil e Chile em Transformação

Blay destaca também: “Na Argentina, a ousada resistência das Mães da Praça de Maio, seguidas, anos depois, pelas Avós da Praça de Maio, criou um espaço de reparação até hoje não concluído, pois agora são os netos que continuam a ser procurados. No Chile, desde a década de 1980, contra a feroz ditadura de Pinochet, organizaram-se várias iniciativas como a Casa de la Mujer de Valparaiso, a Casa de los Colores, entre outras.”

Os movimentos feministas continuaram firmes nas décadas seguintes. “As mulheres, a partir dos movimentos sociais, diversificaram suas reivindicações: à contestação política ao Estado ditatorial se somaram demandas por melhor qualidade da vida cotidiana.”

 

 

Gênero e Feminismos : Argentina, Brasil e Chile em Transformação. Organização: Eva Alterman Blay, Lucia Avelar e Patrícia Rangel, lançamento Editora da Universidade de São Paulo-Edusp, 488 páginas. Preço:R$ 40,00.


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