Zika destrói tumor cerebral em camundongos

Pesquisadores brasileiros do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco mostram, pela primeira vez em animais, o efeito deletério da injeção do vírus purificado, em baixa concentração, sobre tumores embrionários cerebrais, de células humanas, induzidos em camundongos de baixa imunidade.

 26/04/2018 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 18/10/2019 às 11:32
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Estudo publicado na revista Cancer Research, da Associação Americana para o Pesquisa do Câncer, revela o lado terapêutico do vírus do Zika que, em 2015, deixou em alerta as autoridades mundiais de saúde pública, quando se estabeleceu a ligação entre a infecção pelo vírus durante a gestação e o nascimento de crianças com microcefalia. Agora, pesquisadores brasileiros do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco mostram, pela primeira vez em animais, o efeito deletério da injeção do vírus purificado, em baixa concentração, sobre tumores embrionários cerebrais, de células humanas, induzidos em camundongos de baixa imunidade. O artigo chama-se Zika vírus selectively kills aggressive human embryonal CNS tumor cells in vitro and in vivo e foi publicado online no dia 26 de abril de 2018.

Os estudos foram realizados utilizando principalmente linhagens celulares humanas derivadas de dois tipos de tumores embrionários do sistema nervoso central (SNC): o meduloblastoma e o tumor teratóide rabdóico atípico (AT/RT, na sigla em inglês). São tumores que afetam principalmente crianças com menos de cinco anos.

“Os tumores do SNC são os tumores sólidos mais frequentes em crianças e adolescentes”, explica Keith Okamoto, um dos autores principais do estudo. “O pico de incidência do meduloblastoma é em crianças de 4 a 5 anos de idade. O AT/RT tem uma maior incidência em crianças anda mais jovens, de 2 a 3 anos”.

Os tumores regrediram  em 20 dos 29 animais tratados com o vírus da Zika no estudo. Em sete deles (cinco com AT/RT e dois com meduloblastoma), a remissão foi completa: o tumor desapareceu. Em alguns casos, o vírus também foi efetivo contra metástases – ou eliminou o tumor secundário, ou estimulou sua remissão.

Mayana Zatz, coordenadora do centro e uma das autoras principais do estudo, não hesita em classificar os resultados como “espetaculares”. O próximo passo será tratar de encontrar parceiros para o que é chamado, no jargão das ciências biomédicas, de fase 1 dos testes, agora não mais em animais, mas em pessoas. No caso, com maior frequência, crianças pequenas. Essa é uma das causas do entusiasmo que transparece na experiente Mayana, e que ela procura refrear ao falar da pesquisa que fomentou.

“A gente vai ter que segurar a ansiedade e não colocar a carroça na frente dos bois. É muito importante começar com dois ou três pacientes antes e, se der certo, fazer isso para um número maior”.

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Para isso será necessário obter o vírus purificado, em quantidades maiores, e produzido de acordo com as boas práticas de cultivo exigidas  para testes em seres humanos. Esta etapa está sendo tratada com o Instituto Butantan, que já forneceu os vírus e colaborou com o presente estudo. A partir daí, será  possível criar um protocolo para aplicação em pacientes.

Carolini Kaid, doutoranda do Centro de Estudos do Genoma Humano orientada por Keith Okamoto, é a primeira autora do trabalho. Ela se responsabilizou especialmente pelo trato com os camundongos: fez as cirurgias para implantação dos tumores, injetou o vírus da zika no local, e depois acompanhou a evolução.

Confira na playlist as entrevistas com o pesquisadores brasileiros que participaram do estudo.

 


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