Sistema nacional de testagem é um caminho para combater o câncer de colo do útero

Para Jesus Paula Carvalho, além da testagem, vacinas contra o HPV e testes precoces também são importantes no combate à doença

 08/02/2022 - Publicado há 2 anos
Caso não se vacinem, as meninas correm o risco de contrair o HPV quando iniciarem a atividade sexual – Foto: Pixabay
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O Papilomavírus Humano, ou HPV, é o vírus responsável pelo câncer de colo do útero. O exame mais comum utilizado atualmente para a identificação desse câncer é o papanicolau.

O professor Jesus Paula Carvalho, chefe da equipe de Ginecologia Oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), unidade ligada ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, conversou com o Jornal da USP no Ar 1ª Edição sobre o HPV e sobre uma nova forma de detectar o risco de câncer de colo de útero.

HPV e detecção

“O câncer de colo do útero ainda é o câncer ginecológico mais frequente na mulher. A cada 90 minutos, morre uma mulher no Brasil por câncer do colo do útero”, conta Carvalho, que chama a atenção para a maior incidência da doença em mulheres entre 30 e 45 anos.

Jesus Paula Carvalho – Foto: Doctoralia/ Arquivo Pessoal

O diagnóstico precoce da doença é possível desde os anos 40, através do exame papanicolau. “Foi um teste muito bom quando surgiu, porque, através de um exame simples, realizado na vagina, colhendo material do colo da vagina, se poderia detectar as células cancerosas e identificar as mulheres que já estavam desenvolvendo o câncer”, explica. A partir dos anos 70, a Medicina passa a relacioná-lo com o HPV.

Atualmente, existem alternativas mais avançadas que o papanicolau, que podem detectar a infecção pelo vírus do HPV antes que ele cause o câncer. É o caso do teste de DNA-HPV.
“A grande vantagem do teste do HPV é que, se a mulher fizer e ele for negativo, os estudos mostram que ela pode ficar cinco anos tranquila”, explica Carvalho.

Por ser uma doença causada por vírus, o câncer de colo de útero pode ainda ser evitado tomando a vacina contra o HPV. “É uma doença que pode ser, inclusive, eliminada do planeta, se houver uma atitude nesse sentido”, conta.

Quando começar a rastrear?

O câncer de colo do útero deve ser uma preocupação desde a infância, segundo o especialista. Aos 9 anos de idade, o câncer já deve ser uma preocupação e deve ser buscada a vacinação, gratuita e disponível nas Unidades Básicas de Saúde para meninas de 9 a 13 anos e para meninos de 11 a 13 anos.

Caso não se vacinem, as meninas correm o risco de contrair o HPV quando iniciarem a atividade sexual. Podem, a partir disso, desenvolver uma infecção transitória e que se cure espontaneamente ou desenvolver um câncer, explica Carvalho.

“O que o Ministério da Saúde e as principais sociedades médicas recomendam é que comece-se a fazer os exames aos 25 anos e faça até os 64 anos de idade.” O dois primeiros exames devem ser feitos com o intervalo de um ano e, se os dois exames não detectarem a doença, pode-se passar a fazer a cada três anos.

A importância da detecção precoce

Segundo o professor, a lesão que o HPV causa quando começa a se encaminhar para câncer, chamada de neoplasia intraepitelial cervical, pode ser tratada em minutos em uma consulta comum, com garantia de sucesso.

Dois terços das pacientes no Icesp, no entanto, já apresentam estágios avançados da doença e 40% delas não sobrevivem.

Questão nacional

Carvalho afirma que o sistema brasileiro de rastreamento do câncer de colo do útero sofre de um problema sério de desorganização. Segundo o especialista, o sistema atual funciona numa lógica “oportunista”: a mulher decide quando fazer o exame por iniciativa própria. Por conta disso, há pessoas que fazem mais testes que o necessário e pessoas que sequer se testam.

O doutor defende um sistema “organizado”, onde as mulheres seriam convocadas para fazer o exame. Ele cita, como exemplo, um projeto realizado pela Unicamp, em parceria com as autoridades locais, na cidade de Indaiatuba, próxima a Campinas. O projeto aplicou o modelo organizado de testagem e utilizou os testes de DNA-HPV. Segundo Carvalho, a mudança possibilitou diagnósticos muito mais precoces, um nível de cura muito maior e que a detecção do câncer fosse feita em média dez anos antes do que seria detectado em um sistema desorganizado.


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