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Aprofundar o conhecimento do ensino médio e do superior nas humanidades e nas ciências matemáticas, físicas, químicas e biológicas. Com essa meta, a revista Estudos Avançados – publicada pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP – acaba de lançar o dossiê Ensino de Ciências, em sua edição número 94. A questão sobre o que e como ensinar é respondida em diferentes textos de especialistas de diversas áreas das ciências. Segundo os editores, “o leitor escolherá, a seu critério, os artigos de seu interesse profissional e de sua curiosidade intelectual”.
Este número é dedicado ao ex-professor do Instituto de Física da USP Ernst Hamburger (1933-2018), pela sua trajetória incansável na divulgação da ciência dentro e fora da USP. A edição destaca também o trabalho do sociólogo peruano Anibal Quijano, professor convidado do IEA. Hamburger e Quijano faleceram, respectivamente, nos dias 4 de julho e 31 de maio deste ano.
O artigo “Ensino de Botânica: conhecimento e encantamento na educação científica” abre a revista. Foi escrito pelos professores Suzana Ursi, Paulo Takeo Sano, Flávio Augusto de Souza Berchez e Percia Paiva Barbosa, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP. No texto, os autores esclarecem que o ensino de Botânica está inserido no contexto mais amplo da educação biológica. Contudo, apresenta peculiaridades que justificam uma análise mais cuidadosa e específica para suas questões.
Os autores ressaltam: “Nos dias atuais, os séculos 20 e 21 são considerados a ‘era da biologia’ pelos inúmeros avanços científicos a ela relacionados. Nesse contexto, o trabalho de Watson e Crick, de 1953, explicando a estrutura do DNA, é uma das obras mais significativas, pois levou à manipulação genética, que tem mudado nosso dia a dia. Atualmente, somos capazes de modificar a Terra de forma estrondosa, causando, inclusive, impactos ambientais indesejados”. Diante desse cenário, os especialistas argumentam que torna-se incontestável a abordagem dessa ciência na educação básica, fundamental na formação dos estudantes e futuros cidadãos.
A sala de aula é o espaço onde deve ocorrer o diálogo real, com suas características parcialmente previsíveis e com toda sorte de novidades e situações inesperadas na interação pedagógica.”
“Ensino e aprendizagem de Física no ensino médio e a formação de professores” é o tema do artigo assinado por Anna Maria Pessoa de Carvalho e Lucia Helena Sasserum, professoras da Faculdade de Educação da USP. As especialistas apresentam e discutem questões necessárias para o planejamento e a implementação de aulas de física, em que o foco está duplamente colocado sobre o ensino e aprendizagem. Afirmam que o professor precisa saber o conteúdo que vai ensinar, mas precisa saber também como vai ensinar para os alunos aprenderem.
“A sala de aula é o espaço onde deve ocorrer o diálogo real, com suas características parcialmente previsíveis e com toda sorte de novidades e situações inesperadas na interação pedagógica”, observam as professoras. “Mais ainda, o diálogo com os aprendizes – com cada indivíduo e com o coletivo – precisa envolver todos os sujeitos presentes. O diálogo tem, para o professor, o propósito de ouvir os alunos e ao mesmo tempo de conduzir a aprendizagem. Nesse espaço, seria a bússola do timoneiro frente às dificuldades dos aprendizes.”
Em seu artigo “Uma análise crítica do ensino de Física”, o professor Marco Antonio Moreira, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), propõe fazer uma análise crítica do ensino de física no Brasil. Observa: “A física está na base da tecnologia e o conhecimento físico é importante para a cidadania. A física tem conceitos, perguntas, modelos, teorias que não são definitivos, mas que geram asserções de conhecimento altamente relevantes para o mundo de hoje. Além disso, aprender física pode levar ao desenvolvimento de processos cognitivos, de uma consciência epistemológica e crítica.”
Há um descompasso entre a lógica que os atores do contexto escolar defendem para os objetivos e finalidade da educação escolar e a lógica dos modelos neoliberais.”
Cármen Lúcia Brancaglioni Passos, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e Adair Mendes Naccarato, professora da Universidade São Francisco (USF), explicam que a sociedade educacional brasileira tem vivido momentos tensos nos últimos anos. “Há um descompasso entre a lógica que os atores do contexto escolar defendem para os objetivos e finalidade da educação escolar e a lógica dos modelos neoliberais de políticas públicas voltadas à educação, principalmente aquela voltada à mensuração de resultados e padronização curricular.”
No artigo “Trajetória e perspectivas para o ensino de Matemática nos anos iniciais”, as professoras propõem discutir o contexto do ensino de matemática nos anos iniciais do ensino fundamental, numa retrospectiva histórica das políticas curriculares das últimas décadas.
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Carmen Fernandez, professora do Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química da USP, traça um panorama abrangente em seu artigo “Formação de professores de Química no Brasil e no mundo”. Esclarece: “O ensino de ciências, e o de química em particular, tem atravessado muitas dificuldades no Brasil e no mundo. Das disciplinas escolares, a química é aquela usualmente considerada a mais impopular, difícil e abstrata, e boa parte dos conceitos químicos aprendidos na escola não faz sentido para um número significativo de estudantes. Por outro lado, o conhecimento de química num país é a base para a inovação, a alfabetização científica e a melhor solução de problemas em conexão com o desenvolvimento sustentável.
Revista Estudos Avançados número 94, dossiê Ensino de Ciências, publicação quadrimestral do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, 440 páginas. Assinatura anual (três edições): R$ 80,00. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091-1675 e 3091-1676.
A revista está disponível na plataforma Scielo através deste link.