Margareth Artur/Revistas da USP
Pode parecer surpreendente, mas já na década de 1950, logo após a Segunda Guerra Mundial, alguns cientistas começaram a desenvolver estudos sobre um ramo da ciência da computação, hoje assunto dos mais discutidos, a Inteligência Artificial (IA). Em 1956, no evento Darthmouth College Conference, pesquisadores reconhecidos como “pais da área, como John MacCarthy, Marvin Minsky, Alan Newell e Herbert Simon” determinaram pontos de referência que deram início a estudos e pesquisas “nesse fascinante domínio da Computação”, afirma Jaime Sichman, autor de um artigo sobre o tema publicado na revista Estudos Avançados. O artigo tem como intuito esclarecer as características da IA, as diferenças desta com a computação tradicional, como pode ser inserida nas sociedades, ressaltando, por um lado, os benefícios e, por outro lado, os riscos e danos possíveis que essa tecnologia pode ocasionar.
Para evitar as consequências negativas da IA, é preciso que se ponha em pauta a discussão apropriada sobre “produção, utilização e regulação” dessa tecnologia, salientando-se que assim se pode evitar errôneas definições e explicações que as mídias sociais divulgam normalmente sobre o assunto, o que gera oscilações entre grandes expectativas e investimentos e grandes frustrações e quase nenhum investimento. Porém, atualmente, as grandes expectativas são justificadas pelo barateamento do custo de processamento e de memória, a presença “de novos paradigmas, como as redes neurais profundas”, e a existência de poderosos instrumentos de captação e divulgação de dados cujo montante na internet é assombroso. Ao invés de definir a IA, o artigo busca estabelecer quais as finalidades e propósitos dessa área intrigante.
Estudiosos definiram que “o objetivo da IA é desenvolver sistemas para realizar tarefas que, no momento, são mais bem realizadas por seres humanos que por máquinas” ou tarefas para as quais não há solução pela computação convencional que utiliza algoritmos, os quais são passos definidos e exatos para a execução de uma tarefa, como seguirmos uma receita de bolo, por exemplo. Porém, quando os passos a serem seguidos não são exatos, como na escolha de um pacote de turismo: quem garante a melhor opção: “Deve-se escolher primeiro o voo ou o hotel? Quais datas teriam um custo menor?”, aí o indivíduo, e não a máquina, funciona melhor, pois nós, os humanos, somos quem observa e escolhe os critérios para soluções e o efeito dessas escolhas. Com base nessa constatação, a Inteligência Artificial se mune cada vez mais de técnicas avançadas da tecnologia para resolver questões complexas.
Quando se refere à “interação humano-agente”, o autor explica a relação entre a pessoa humana e os recursos da IA, na qual os efeitos positivos se realizam “diferentemente dos métodos convencionais em que as pessoas se adaptem e se ajustem aos elementos técnicos”. Hoje, as sociedades se beneficiam dos recursos possibilitados pela IA, como os serviços bancários, auxiliando a pessoa em tomada de decisões, e os sistemas centrais de atendimento que estabelecem uma conexão entre empresas e consumidores, tomados como exemplos. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer de como se deve proceder e aplicar esses recursos da IA com responsabilidade e ética, prevendo benefícios e danos de âmbito social. “Assim, um grande desafio é incorporar tais normas e valores em sistemas de IA”, alerta o autor.
A respeito dos riscos da IA propagados, o autor cita estudos que incluem o medo das pessoas com relação à criação de robôs destruidores da raça humana, o que não tem fundamento, pois a tecnologia de hoje não comportaria essa ideia, pela incapacidade de igualar-se à rapidez de processamento do cérebro humano, além do absurdo da quantidade de energia que esse robô precisaria, além de outras razões. Atualmente, não se pode prescindir da IA, porém, é fundamental que a ética permeie essa prática tecnológica, e que se possa interferir quando houver perigo para os humanos. Pesquisas expressam o impacto da IA “no trabalho, interações sociais (incluindo cuidados de saúde), privacidade, justiça e segurança (incluindo iniciativas de paz e guerra)”, e isso requer o uso seguro, benéfico e justo dessa tecnologia pela sociedade civil e, sobretudo, pelos governos.
Artigo
SICHMAN, J. S. Inteligência Artificial e sociedade: avanços e riscos. Estudos Avançados, São Paulo, v. 35, n. 101, p. 37-50, 2021. ISSN: 0103-4014. DOI: https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2021.35101.004. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/185024. Acesso em: 11 maio 2021.
Contato
Jaime Simão Sichman – Professor e chefe da Comissão de Pesquisa do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais, Escola Politécnica (EP), Universidade de São Paulo. jaime.sichman@usp.br
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