
Margareth Artur/Portal de Revistas da USP
A Revista de Medicina, recém-publicada no Portal de Revistas da USP, traz um artigo que discute um tema que interessa às mulheres na fase reprodutiva, principalmente jovens universitárias de medicina: qual informação essas alunas possuem sobre os riscos e os benefícios dos contraceptivos orais combinados (conhecidos pela sigla COC)?
Participaram da pesquisa 86 estudantes do sexo feminino entre 18 e 25 anos matriculadas em um curso de Medicina de uma universidade pública do interior do Estado de São Paulo. A coleta dos dados ocorreu entre outubro e novembro de 2017 por meio de um questionário estruturado, autoaplicável e composto de 34 questões divididas em dados sociodemográficos, antecedentes contraceptivos e conhecimentos sobre riscos e benefícios associados ao uso dos COC. A maioria era usuária dos COC (86,05%) e iniciou seu uso por indicação médica (94,59%).
Poucas conheciam os efeitos benéficos dos COC na redução dos cânceres de endométrio (31,40%), ovário (18,60%) e colorretal (8,14%). Por outro lado, os conhecimentos dos riscos de trombose venosa profunda (97,67%) e acidente vascular encefálico (88,37%) foram satisfatórios. Adicionalmente, mais da metade das universitárias associou o uso dos COC a ganho de peso (56,98%).
A utilização do COC se mostra muito eficiente nas mulheres que enfrentam condições sociais e econômicas precárias e pouco acesso aos serviços de saúde. Ainda em relação aos benefícios, o estudo afirma que, usado por um longo tempo, o COC pode prevenir a mortalidade, reduzindo o risco de doença inflamatória pélvica. Dentre os efeitos colaterais, há o aumento do risco para tromboembolismo venoso, trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar, mas a incidência é baixa, na comparação com mulheres que não usam COC.
As autoras chamam a atenção para o fato de, nesse artigo, “o COC referir-se a qualquer composição de contraceptivo oral combinado, excluindo-se os contraceptivos orais de progestagênio e a contracepção de emergência”. E, para que não haja conflitos de opinião sobre os resultados do COC, é preciso que se disponibilize um aconselhamento sobre “contraceptivo qualificado”, que se criem métodos educacionais para as mulheres planejarem a questão da gravidez ou não, com mais informações a respeito da decisão sobre a utilização desse tipo de contraceptivo.
O aparecimento do anticoncepcional foi uma revolução nos costumes que afetou toda a população mundial. “Desde o início da sua comercialização, em 1960, os COC representam a forma de contracepção reversível mais popular mundialmente com prevalência de uso entre mulheres em idade reprodutiva estimada em 9% em todo o mundo e 24,1%, no Brasil, em 2015”, diz o texto do artigo.
Considerada uma das mais expressivas conquistas na área da saúde pública no século 20, a elaboração e a produção do contraceptivo oral combinado (COC) tornaram-se “um marco na conquista feminina dos direitos sexuais e reprodutivos”, com a possiblidade de a mulher escolher ser ou não ser mãe e conquistar autonomia para gerenciar sua própria vida sem a interferência masculina. Nas palavras das autoras, “ganhassem o mercado de trabalho e ocupassem postos políticos, mudando assim seu comportamento e papel social”.
Há riscos e benefícios no uso de COC, mas a maioria da população não tem conhecimento desses fatores. Há um desequilíbrio de informações que prejudica uma opção adequada da mulher. Esse fato não pode ser negligenciado, pois a correta informação de profissionais da área sobre o tema muitas vezes é desconhecida, mesmo em mulheres “mais instruídas e com acesso a serviços de saúde”. A conquista do COC libertou as mulheres de tradições culturais impostas pelo domínio masculino, mas é essencial que elas saibam como lidar com essa liberdade, procurando profissionais que possam orientá-las em suas decisões, preservando, sobretudo, a saúde.
Artigo
PINTO, L. F. de A.; RODOVALHO-CALLEGARI, F. V.; CARBOL, M. Conhecimento de universitárias sobre os riscos e benefícios associados aos contraceptivos orais combinados. Revista de Medicina, v. 99, n. 5, p. 423-431, 2020. ISSN: 1679-9836. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v99i5p423-431. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/168761. Acesso em: 15 dez. 2020.
Contatos
Lais Ferraz de Assis Pinto – Graduada em Medicina pela Universidade Federal de São Carlos, SP.
E-mail: laisferraz@outlook.com
Fernanda Vieira Rodovalho–Callegari – Professora adjunta do Departamento de Medicina, Universidade Federal de São Carlos, SP, e professora associada II do Curso de Medicina da UFCAT.
E-mail: fvrcallegari@gmail.com
Maristela Carbol – Co-orientadora e professora associada do Departamento de Medicina, Universidade Federal de São Carlos, SP.
E-mail: maristela@carbol.com.br