Idade cronológica não o melhor indicador para prever a evolução e gravidade da covid-19 em idosos, aponta estudo desenvolvido por pesquisadores da USP. De março a julho de 2020, foram acompanhados cerca de 1.830 pacientes internados no Hospital das Clínicas da USP. A pesquisa observou a recorrência da síndrome da fragilidade em pessoas acima dos 50 anos e concluiu que este é um fator a ser considerado para avaliar os riscos de agravamento da covid-19, já que a síndrome, entre outros fatores, vulnerabiliza o paciente.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Marlon Aliberti, pesquisador clínico do Laboratório de Investigação Médica em Envelhecimento (LIM66) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que a idade avançada é fator de risco para covid-19, mas não o único, e não pode ser considerada determinante para o agravamento do quadro clínico. “A idade cronológica interfere pouco no nível de saúde. Há vários outros critérios importantes. Para entender, tivemos o ímpeto de estudar a síndrome de fragilidade, que é mais comum em pessoas que envelhecem. A partir dessa síndrome, conseguimos entender melhor que o nível de saúde da pessoa vai além da idade e pode determinar se essa pessoa tem chance de evoluir de maneira mais grave, com piores consequências, ou uma chance de ter uma boa evolução, apesar de ser internada.”
A síndrome da fragilidade estabelece características notáveis nos idosos, como a perda de energia para fazer as atividades do dia dia, perda de peso, fraqueza muscular, lentidão da velocidade de marcha e baixa capacidade física. A partir da comprovação desses critérios, clinicamente, é possível diagnosticar a síndrome. Devido à complexidade de avaliar os pacientes internados com covid-19, a equipe de pesquisa utilizou uma escala clínica para o diagnóstico e nela foi observada a capacidade individual de realização de atividades de autocuidado, de morar independentemente e como a energia no idoso era antes da contaminação pelo coronavírus: “Isso tudo foi considerado não durante a covid-19, mas como o idoso era um mês antes da doença. Por isso, chamamos no estudo de fragilidade prévia. A ideia desse trabalho é que essa fragilidade prévia era antes de a pessoa ser infectada. Mas as características da doença aguda é que determinam como a pessoa vai evoluir quando tem uma forma mais grave da covid-19”, compartilha o médico.
Conforme Aliberti, a avaliação da síndrome da fragilidade em idosos é realizada em alguns países europeus, como no Reino Unido. “Lá, todo paciente que adentra o pronto-socorro tem avaliada a fragilidade, além da idade, sexo, pressão arterial, frequência cardíaca.” Contudo a observação prolongada desses pacientes por seis meses era inédita até o estudo do HC: “Pela primeira vez, mostramos a fragilidade como marcador prognóstico num período de seis meses. O que aprendemos? A mortalidade relacionada à covid-19 nas formas graves é muito mais intensa nesses primeiros dois meses, que é o momento que a pessoa está internada e recebe alta há pouco tempo. A mortalidade é muito maior no período da internação. Conseguimos captar algo em torno de 5% de indivíduos que acabam vindo a falecer depois da alta hospitalar num período maior após a alta”. O estudo não deve parar por aí. O objetivo agora é avaliar a síndrome da fragilidade por um ano para compreendê-la e entender a relação com a covid-19 após a alta.
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