Já não é algo inédito, a ponto de chamar a atenção, a presença de policiais nas portas das escolas ou a hostilidade dos alunos que praticam humilhações contra outros. Até mesmo crimes como tráfico de drogas e homicídios ganharam a escola como cenário. A violência escolar não é só física – é também verbal e pode ser mais sutil. E a instituição escolar não consegue lidar com questões muitas vezes originadas no contexto familiar dos alunos. Encontrar um modo de enfrentar o problema é um desafio que passa principalmente por prevenção. Diversas abordagens sobre o tema estão expostas em artigo publicado na revista Educação e Pesquisa.
Por meio de revisão realizada em periódicos nacionais e internacionais, as autoras verificaram o que já existe publicado sobre o assunto, a partir de artigos indexados em bases multidisciplinares e da saúde. Os artigos foram organizados pela abordagem de estratégias de prevenção e enfrentamento da violência escolar; “pelo poder público ou pela própria escola”; apresentação de estudos sobre o tema; além de artigos selecionados que “realizavam revisão da literatura quanto à qualidade e à efetividade dos programas de prevenção”. Os resultados apontam para uma proposta quantitativa, o que demanda um estudo aprofundado de conteúdo do assunto.
De acordo com as educadoras, alguns autores atribuem a violência escolar tanto ao ambiente interno como externo à escola, “outros fazem menção à exclusão social, ao tráfico de drogas, à falta de oportunidades, à influência da mídia, ao tempo livre e ocioso e à falta de perspectivas e sonhos como precursores da violência no âmbito escolar”. Menciona-se a violência na escola, ou seja, o dia a dia dos alunos; a violência contra a escola, o vandalismo, incêndios, roubos ou furtos do patrimônio; e violência da escola, o despreparo profissional, a falta de estímulos, o conteúdo alheio aos interesses dos alunos e do mercado de trabalho, os preconceitos e estereótipos, o abuso de poder, entre outros.
A pesquisa revela que, para conseguir sucesso, as estratégias de prevenção da violência escolar devem incluir uma perspectiva interdisciplinar, apontando intervenções em relação ao indivíduo, ao conteúdo e forma didáticos empregados nas escolas e também no campo institucional. As autoras apontam, nas leituras, a necessidade de docentes e funcionários estarem mais aptos e conscientes da realidade escolar, no sentido de estímulo para “práticas democráticas na escola e negociação de conflitos”. Quanto à definição de violência escolar, segundo o artigo, ela pode ser caracterizada de diversos modos, como, por exemplo, por relações de opressão, intimidação, medo e terror.
Para o enfrentamento da violência na escola, é importante haver reflexões sobre a realidade concreta da vida de estudantes e famílias, segundo as autoras, “e que possam ser incluídas no projeto pedagógico das escolas”. A pesquisa reforça o fato que não se pode esquecer da necessidade da interdisciplinaridade nas ações de prevenção, tendo em vista o ambiente dentro e fora da escola, já que “a violência deve ser compreendida a partir do contexto social e cultural que a atravessa”, para que não se caia na armadilha de os programas de prevenção acabarem por contribuírem para a segregação.
Flaviany Ribeiro da Silva é da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro
Simone Gonçalves Assis é da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro
SILVA, F., & ASSIS, S. Prevenção da violência escolar: uma revisão da literatura. Educação e Pesquisa, n. 44, e157305. ISSN: 10.1590. DOI: https://doi.org/10.1590/s1517-9702201703157305. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ep/article/view/143502. Acesso em: 03 dez. 2018
Margareth Artur / Portal de Revistas USP
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