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No momento em que se discute a implantação da reforma do ensino médio nas escolas brasileiras, História da Alfabetização no Brasil, lançado pela Editora da USP em novembro, traz contribuições relevantes para o embasamento de debates sobre o assunto. A obra faz uma retrospectiva histórica da educação desde o período do Império, passando pela República até chegar ao momento atual, procurando neste percurso compreender o atraso educacional pelo qual passa o País.
Parafraseando o pensamento do historiador francês, um dos fundadores da Escola Superior Normal de Paris, “o presente deve ser compreendido iluminado pelo passado, mas o passado sem o presente, pouco vale”, a historiadora e autora da obra, Maria Luiza Marcílio, explica a importância do conteúdo do livro para a discussão do tema na atualidade.
Na opinião da pesquisadora, os governantes brasileiros nunca souberam conduzir bem os problemas relacionados à área da educação, havendo sempre radicalismos ideológicos na condução das políticas públicas. Tecendo críticas às inúmeras propostas pedagógicas implementadas ao longo dos anos no Brasil (positivismo e nacionalismo), Maria Luiza não poupou nem mesmo o construtivismo – metodologia educacional baseada nas ideias do psicólogo suíço Jean Piaget que vem sendo utilizada nas escolas desde a década de 70. Entre seus argumentos pairam os resultados obtidos em ranking que mede o desempenho dos alunos em leituras e ensino da matemática e a existência de um elevado número de analfabetos funcionais e absolutos. Em 2005, 75% da população brasileira entre 15 e 64 anos se encaixava nesta categoria, afirma a autora.
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Sobre o construtivismo, a historiadora afirmou que a proposta retirou do professor a autoridade que ele tinha em sala de aula, e que levou o aluno a piorar em seu comportamento. “Isso resultou em atraso para o próprio estudante ao longo da carreira acadêmica. No quarto ou quinto ano, muitos não sabem ler nem escrever e chegam à faculdade com dificuldade de redigir um bom texto.”
Defensora de investimento para o ciclo básico, Maria Luiza afirma que o caminho para resolução do problema da educação passa pela valorização do professor. Sobre este tema, a historiadora relata em sua obra as primeiras iniciativas paulistas no início da República para as transformações educacionais no Brasil. Seguindo um modelo francês, foram dados os primeiros passos para a construção de escolas normais em São Paulo.
Naquela época, já havia a ideia que qualquer mudança relevante deveria começar pela formação do professor, sem a qual toda pretensão de modernização do ensino estaria fadada ao fracasso.”
A Escola Normal Caetano de Campos, localizada na Praça da República, no centro de São Paulo, foi fundada neste período e se tornou a sede da primeira escola paulista voltada para formação de professor. No prefácio do professor Jacques Marcovitch, o ex-reitor da USP afirma que as deficiências apuradas pela historiadora durante a pesquisa para a produção de sua obra “servirão de advertência aos responsáveis pela educação das crianças brasileiras no século 21”.
Sobre a autora
O livro História da Alfabetização no Brasil foi lançado pela Edusp e pela Livraria da Vila Lorena em novembro deste ano. A autora é professora titular aposentada do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Além de escrever dezenas de livros e centenas de artigos, publicados no País e no exterior, Maria Luiza Marcílio foi professora visitante de várias universidades estrangeiras e fundadora do Centro de Estudos de Demografia Histórica da América latina (Cedhal-USP).
O livro pode ser encontrado nas lojas físicas da Livraria da Vila e da Edusp e no próprio site da Edusp