O Aparecimento do Livro, de Lucien Febvre e Henri-Jean Martin, foi uma espécie de pioneiro. A proposta analítica do historiador francês Lucien Febvre para este trabalho inaugurou um campo de pesquisas que procuram responder a uma pergunta fundamental: qual foi o papel do livro nas grandes transformações históricas?
O pioneirismo da obra é muito mais metodológico do que temático. É que a história do livro impresso já era bem conhecida. Segundo Marisa Midore Deaecto, professora do curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP, a principal novidade oferecida por Febvre e Martin foi a oportunidade de conhecer uma história econômica, social e política do livro. Para isso, os autores não começam a narrativa do tipógrafo de Gutenberg, mas sim da matéria-prima.
Nesta playlist, Marisa Midore Deaecto comenta a importância da obra para as ciências humanas:
“O pergaminho era de difícil acesso, de dificil produção, estava numa escala extremamente artesanal e era caríssimo”, comenta Deaecto. “O que os os autores percebem, dentro de uma perspectiva de economia do livro, é que era preciso primeiro contar a história da matéria-prima, do insumo. Compreender como se deu o desenvolvimento dos moinhos de papel na Europa a partir do século 13, considerando que era uma tecnologia importada do Oriente”.
A técnica de produção do papel viajou da China à Europa passando pelo Islã. Foi durante a época da ocupação islâmica na península ibérica que a produção se estabeleceu em terras europeias. “Esses moinhos serão implantados a partir da península itálica. Sem a compreensão a importância dessa primeira indústria papeleira, não temos como entender a produção em larga escala (dos livros)”.
A primeira edição de O Aparecimento do Livro foi publicada em 1958, depois da morte de Febvre. Ele não chegou a ver o livro finalizado. Coube a Henri-Jean Martin, então um jovem bibliotecário, terminá-lo. Uma nova edição brasileira deste trabalho foi lançada recentemente pela Edusp.
Reportagem: Silvana Salles e Tabita Said | Edição: Alan Petrillo, Isabella Yoshimura e Silvana Salles | Realização: Núcleo de Divulgação Científica da USP