A cobertura da vacina contra sarampo, caxumba e rubéola, ou tríplice viral (SCR), caiu significativamente no Brasil e no Estado de São Paulo nos últimos anos e esta pode ser uma das razões do atual surto de sarampo na capital e no Estado, cujos primeiros casos apareceram em março deste ano. O sorotipo circulante entre os paulistas é o D8, prevalente em países da Europa. Por isso, é mais provável que o vírus do sarampo tenha sido reintroduzido em São Paulo a partir de casos provenientes daqueles países e menos provável que esteja relacionado aos casos importados da Venezuela, que levaram a um surto nos estados do Amazonas e Roraima no ano passado. A avaliação é da professora Marta Heloisa Lopes, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e responsável pelo Centro de Imunizações do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Os casos atuais de sarampo são menos frequentes entre crianças. O grupo mais frequente agora é o de jovens e adultos na faixa dos 15 aos 29 anos, justamente o público-alvo das campanhas recentes do Ministério da Saúde. “A vacina monovalente contra sarampo foi licenciada no Brasil em 1967 e sistematicamente distribuída a partir de 1973, sendo que a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) só entrou no calendário do Programa Nacional de Imunização a partir de 1992. Por isso, muita gente pensa que foi imunizada na infância, mas está enganada”, disse a professora.
Na palestra Sarampo – Atualizações, no dia 9 de agosto, em que falou para um público de profissionais, pesquisadores e estudantes no Instituto de Medicina Tropical (IMTSP) da FMUSP, a especialista desmistificou polêmicas sobre a segurança da vacina tríplice viral. “É uma vacina antiga, segura e com muitas pesquisas. Ela não aumenta o risco de autismo, nem desencadeia o transtorno em crianças suscetíveis a ele. A afirmação tem como base várias pesquisas; a mais recente avaliou mais de 650 mil crianças na Dinamarca”, afirmou a docente, que também é chefe do Laboratório de Investigação Médica de Imunologia.
A vacina tríplice viral é contraindicada a gestantes, crianças menores de seis meses de idade, pessoas imunodeprimidas graves e pessoas que receberam vacinas de vírus ou bactéria vivas nos últimos 30 dias – o que inclui a própria tríplice, além da febre amarela, varicela, BCG, poliomielite oral ou rotavírus. A imunoglobulina só é usada para pacientes que não podem tomar a vacina de sarampo ou que tiveram contato direto com caso de sarampo – o que é chamado de profilaxia pós-exposição.
A cobertura da vacina tríplice viral SCR no Brasil era de 90,19% em 2014 e caiu para 76% em 2018; no Estado de São Paulo, passou de 98% para 81% no mesmo período. O Ministério da Saúde contabilizou 1.226 casos da infecção entre 12 de maio e 3 de agosto, sendo 1.220 no Estado de São Paulo, quatro no Rio de Janeiro, um na Bahia e outro no Paraná. A certificação de país livre da doença, obtida em 2016, foi perdida em 2018, quando houve a ocorrência de um mesmo surto por mais de 12 meses.
Dados preliminares da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) mostram que os casos notificados de sarampo no mundo cresceram 300% nos primeiros três meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018. A tendência é o aumento dos casos, devido à baixa cobertura (em média 85% no mundo), sendo que a segunda dose tem cobertura ainda menor, de 67%.