A rutina – substância (bioflavonoide) extraída da fava d’anta, planta originária do cerrado brasileiro – além de ser um potente antioxidante contra o envelhecimento da pele foi capaz de aumentar em até 70% o fator de proteção de um novo fotoprotetor desenvolvido no Laboratório de Cosmetologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Testes realizados em humanos mostraram que a adição da rutina à formulação resultou em um produto bem mais eficaz que os já existentes no mercado.
Em um país tropical, onde é alto o índice de câncer de pele pela exposição excessiva ao sol e em horários inadequados, “o desenvolvimento de um novo fotoprotetor, com potencial antioxidante e substâncias bioativas, é indispensável para a prevenção de efeitos deletérios à pele humana”, explica o professor André Rolim Baby, orientador da tese Fotoprotetores bioativos multifuncionais contendo rutina, octil dimetil PAPB e avobenzona; caracterização físico-quimica, funcional e eficácia clínica, de autoria da farmacêutica bioquímica Letícia Costa Tomazelli Yoshida. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil, o câncer de pele não melanoma é o mais frequente, correspondendo a 30% de todos os tumores malignos registrados no País.
Segundo Letícia, o novo fotoprotetor passou por dois testes (o de segurança e o de eficácia) realizados por dermatologistas em 20 voluntários. No primeiro, foram passadas algumas camadas do fotoprotetor na pele das pessoas para verificar se haveria irritação cutânea. No teste de eficácia, através de um equipamento luminoso que projetava raios que simulavam a radiação solar, foi possível calcular o porcentual de proteção (FSP) que o novo produto ofereceria à pele humana. Segundo a pesquisadora, “o bioflavonoide se mostrou com potencial tão forte como antioxidante que não foi necessário adicionar uma concentração muito alta para se obter o resultado esperado. Com apenas 0,1% de rutina já foi possível verificar aumento de cerca de 40% de eliminação de radicais livres e de 70% quanto ao aumento de fator de proteção”, relata.
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A novidade da pesquisa está no fato de os ensaios terem sido feitos em humanos e o protetor solar apresentar capacidade multifuncional já que além de proteção potencializada contra raios solares, o novo filtro funciona como antioxidante. “Alguns estudos anteriores já haviam mostrado indícios de sucesso na associação da rutina em filtros solares com resultado positivo para antioxidante, mas a resposta em pessoas foi comprovada somente agora”, relata André Rolim.
Perguntado se os protetores solares disponíveis no mercado oferecem proteção à pele, o pesquisador afirma que sim, mas explica que o produto com formulação antioxidante tem maior poder de ação.
Quanto aos próximos passos da pesquisa e a possibilidade desse novo produto chegar ao mercado consumidor, Letícia explica que depende do interesse de alguma indústria que faria um estudo de viabilidade econômica (definição do custo final do fotoprotetor e do componente – antioxidante ou fator de proteção – que deveria ser trabalhado no marketing) e o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que demandaria outros testes complementares.
Um artigo sobre a pesquisa, SPF enhancement provided by rutin in a multifunctional sunscreen, foi publicado na International Journal of Pharmaceutics, tendo como primeira autora a pesquisadora Letícia Costa Tomazelli.
Mais informações:e-mails andrerb@usp.br, com André Rolim Baby, ou le_tomazelli@hotmail.com, com Letícia Costa Tomazelli