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Uma pesquisa de mestrado realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP constatou que o controle do tamanho da porção de determinados alimentos e do número de refeições pode auxiliar na prevenção e controle do excesso de peso.
Capitaneada pela nutricionista Jaqueline Lopes Pereira, a pesquisa resultou em um dos artigos do Grupo de Pesquisa de Avaliação do Consumo Alimentar (GAC), da FSP, publicado no periódico PLOS ONE em outubro deste ano.
Em 2015, o Ministério da Saúde divulgou que 52,5% dos brasileiros estão acima do peso. Embora o índice de obesidade seja considerado estável pelo órgão, o número de brasileiros acima do peso continua a aumentar.
“O excesso de peso é uma realidade mundial e a gente tem observado isso na cidade de São Paulo”, afirma Jaqueline ao explicar que, com a prevalência maior do excesso de peso, aumentam na população os riscos para diversas doenças, como diabetes e hipertensão.
Um estudo transversal
Na tentativa de avaliar a associação entre porções dos alimentos e o número de refeições realizadas com o excesso de peso e o perfil lipídico – o índice que mede as dosagens de colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos – de adultos e idosos residentes no município de São Paulo, a pesquisadora fez uso dos dados de um estudo transversal de base populacional conhecido como Inquérito Saúde de São Paulo (ISA-SP). Os inquéritos são realizados na capital desde 2003, por pesquisadores da USP em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde.
Utilizando números da edição de 2008, Jaqueline esclarece que a pesquisa é feita com o auxílio de entrevistadores, que vão até a casa de pessoas selecionadas e aplicam um questionário com foco em saúde e alimentação. “O objetivo principal desse projeto é verificar as condições de saúde da população”, explica ela. O estudo se concentra em uma amostra probabilística de residentes do município de São Paulo de ambos os sexos.
Para a dissertação, Jaqueline avaliou informações como dados socioeconômicos, antropométricos, de estilo de vida e inquérito alimentar, coletadas entre 2008 e 2010 por meio de visitas domiciliares e inquérito telefônico. No total, 1.042 indivíduos foram classificados segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) em duas categorias: com e sem excesso de peso.
A aplicação do ISA, revela Jaqueline, começa com uma entrevista e a aplicação de um recordatório alimentar de 24 horas, em que os entrevistados descrevem todos os alimentos e bebidas que consumiram no dia anterior à entrevista. Após essa etapa, uma segunda visita acontece e nela é medida a pressão arterial e é realizada a coleta de sangue para análise dos exames bioquímicos. Posteriormente é realizada a coleta de um segundo recordatório alimentar por telefone.
Dentre diversas atividades, “fizemos a coordenação, o treinamento dos entrevistadores e o desenvolvimento do questionário”, explica a pesquisadora sobre o papel da FSP na formulação do inquérito.
Orientação de políticas públicas
Dentre algumas das principais conclusões do estudo, o tamanho da porção de determinados alimentos foi associado positivamente ao excesso de peso, enquanto nenhum grupo de alimento de baixa densidade energética foi relacionado inversamente.
Já o número de refeições foi associado inversamente ao Índice de Massa Corporal (IMC) e à circunferência de cintura na população estudada, enquanto a ingestão energética se manteve constante. Contudo, o perfil lipídico se apresentou melhor apenas no sexo feminino, quando o número de refeições foi maior.
Em geral, a pesquisa apontou que o controle do tamanho da porção de determinados alimentos e do número de refeições pode auxiliar na prevenção e controle do excesso de peso.
Para especialistas na área, a relação entre porções alimentares e excesso de peso não é uma novidade. “A literatura já apresenta informações interessantes em relação ao tamanho da porção e ao excesso de peso. Existem vários estudos que mostram que, quando são oferecidas porções maiores, as pessoas acabam comendo mais”, esclarece Jaqueline.
No entanto, a partir deste estudo, a especialista revela que foi possível diferenciar que, apesar de uma maior porção de alimentos estar relacionada ao excesso de peso, sua relação não é de causalidade, mas sim de uma maior chance de obesidade. “Em um estudo transversal medimos o desfecho e a exposição ao mesmo tempo, então não é possível falar que um causa o outro”, esmiúça ela.
Portanto, estudos como esse têm como um de seus objetivos alternativos, além de dar sedimento para uma inferência comum no campo, subsidiar uma série de políticas que possam enfrentar esse desafio para a saúde pública.
“Por exemplo, se uma pessoa vai até uma lanchonete e é oferecida uma porção maior por um valor pequeno, ela acha que isso pode ser uma vantagem”, ilustra Jaqueline. “Conscientizar as pessoas que uma porção maior por um preço mais barato não é necessariamente uma vantagem é uma mensagem importante”, defende.
A dissertação Porções de alimentos e número de refeições realizadas por adultos e idosos do município de São Paulo: relação com excesso de peso e perfil lipídico foi orientada pela professora Regina Mara Fisberg, do Departamento de Nutrição da FSP, e pode ser acessada neste link.
Mais informações: site http://www.gac-usp.com.br, do Grupo de Pesquisa de Avaliação do Consumo Alimentar (GAC) da FSP