Pesquisa que identifica a temperatura exata de polimerização de resinas utilizadas para produção de restaurações dentárias permite a redução de tempo e custo desse tipo de tratamento. “O novo procedimento elimina a etapa de envio do molde em gesso feito pelo dentista em consultório para fabricação das peças (restaurações) em serviços protéticos terceirizados”, descrevem ao Jornal da USP Igor Studart Medeiros e Leonardo Eloy Rodrigues Filhos, ambos do Departamento de Biomateriais e Biologia Oral da Faculdade de Odontologia (FO) da USP.
Diferentemente das obturações que são utilizadas para preenchimento de pequenos espaços de um dente cariado, por exemplo, as restaurações quando precisam ser executadas atendem a trabalhos mais complexos, explica Medeiros. “Elas reconstroem as estruturas do dente para que este recupere suas funcionalidades (forma e função), detêm a evolução de um processo de cárie e devolvem a estética original da boca ao paciente”, diz.
Para fazer as restaurações dos dentes, em geral, os cirurgiões-dentistas utilizam duas técnicas: a direta, que é feita em uma única sessão e na própria boca do paciente; e a indireta, que demanda maior custo e tempo por envolver técnicos em prótese dental (serviço terceirizado) para produção do dente em resina.
Segundo o pesquisador, embora tenham maior custo e exijam mais tempo, as reabilitações indiretas possuem mais vantagens em relação à direta no que diz respeito à resistência do material utilizado para fazer a restauração e adaptação de pontos de contato entre os dentes, o que interfere na retenção de comida e possibilidade de cáries futuras.
Pela nova técnica, o trabalho externo em laboratório poderia ser eliminado se fosse de conhecimento do dentista o processo químico (a temperatura exata de manuseio para cada tipo de resina) envolvido na produção das restaurações. Os testes foram feitos em resinas compostas (Filtek Z350, Filtek Z100, Estelite Omega, Empress Direct). A temperatura ideal para o tratamento térmico foi de 170 graus centígrados, por um período de tempo de dez minutos. Segundo Medeiros, o desafio era saber em que momento haveria o complemento da polimerização e a reestruturação das cadeias resinosas para deixar o material mais resistente e com maior duração estética de cor, diz ao Jornal da USP.
O trabalho de mestrado Compósitos de uso direto tratados termicamente: avaliação da estabilidade de cor após a imersão em corantes”, de autoria de Vitor de Oliveira Baldo, e orientado de Medeiros, confirmou as vantagens dessa nova técnica. As restaurações estudadas apresentaram maior resistência mecânica do que aquelas que foram produzidas em laboratório e menor possibilidade de “manchamento” quando expostas a líquidos de coloração forte como vinho e café. A defesa de mestrado de Baldo será feita em junho.
Forno elétrico comum
No decorrer dos estudos, o professor Medeiros manteve contato com empresas que pudessem projetar fornos elétricos resistivos (aqueles que convertem energia elétrica em energia térmica) de tamanho pequeno para uso em consultórios. Algumas manifestaram interesse e futuramente poderão produzir o equipamento. Porém, como “alternativa para o momento sugere o uso de um forno elétrico comum, desses utilizados para assar pão de queijo, mas estes precisam ser devidamente calibrados” afirma o pesquisador.
No próximo semestre, Medeiros pretende levar a nova técnica para os alunos da graduação, para a disciplina de Dentística II, ministrada na FO-USP, departamento que atende pacientes de baixo poder econômico e que não conseguiram atendimento pela rede pública.
Mais informações: e-mail igorsm@usp.br, com Igor Studart Medeiros