Árvores do planeta serão menos longevas: fenômeno impacta estoques naturais de CO2

Análise de dados dos biomas terrestres mostra que o fenômeno está associado à pouca oferta de água e ao aumento da temperatura terrestre

 15/12/2020 - Publicado há 4 anos
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A redução na longevidade das árvores significa que o carbono ficará menos tempo estocado nos troncos. Quando elas morrem, liberam CO2 de volta para a atmosfera – Foto: Cristiano Martins/Fotos Públicas

 

Mesmo crescendo mais rápido, as árvores de florestas de todo o planeta passaram a ter uma vida mais curta, fenômeno que impacta diretamente a vida na Terra. Menos árvores, mais gás carbônico na atmosfera. Altas concentrações de dióxido de carbono levam ao aumento do efeito-estufa, elevação da temperatura, derretimento das calotas de gelo, elevação dos níveis oceânicos e mudanças nos padrões de chuvas, entre outras consequências. As causas podem estar associadas à baixa disponibilidade de água e ao aumento da temperatura terrestre. O artigo Global tree-ring analysis reveals rapid decrease in tropical tree longevity with temperature, publicado na PNAS, demonstra os mecanismos por trás deste fenômeno e faz um alerta sobre a situação.

Marcos Buckeridge, coordenador do grupo de pesquisa que elucida mecanismos fundamentais das respostas de plantas às mudanças climáticas –
Foto: Reprodução

Para chegar a esses resultados, pesquisadores dos Departamentos de Botânica e de Ecologia, do Instituto de Biociências (IB) da USP, em conjunto com colegas de universidades da Inglaterra, Alemanha e Chile, fizeram análise de dados de praticamente todos os biomas terrestres e trazem informações mais detalhadas sobre a floresta amazônica. “A redução na longevidade das árvores significa que o carbono ficará menos tempo estocado nos troncos. Quando elas morrem, liberam CO2 de volta para a atmosfera, tornando o ciclo do carbono mais dinâmico, reduzindo potencialmente a quantidade de carbono nas florestas tropicais”, explica o biólogo Giuliano Locosselli, pesquisador e o primeiro autor do artigo.

No Brasil, a pesquisa foi conduzida pelo grupo do professor Marcos Buckeridge, do IB.  Ele que é um dos autores do artigo diz que  os cientistas queriam saber  se as plantas que comumente cresciam mais rápido em altas condições  de Co2 e de temperatura também morreriam mais cedo. Foi essa a pergunta que o paper procurou responder.

Assista ao vídeo abaixo com as explicações do professor Buckeridge sobre as implicações das mudanças climáticas no aceleramento do crescimento e mortalidade das árvores das regiões tropicais do planeta.

Segundo o estudo, em regiões mais quentes árvores crescem mais rápido e também morrem mais cedo. O pesquisador explica que há uma relação inversa entre longevidade e taxas de crescimento. As árvores que crescem mais rápido possuem tempo de vida menor. As árvores tropicais, por exemplo, crescem, em média, duas vezes mais rápido em comparação com árvores de biomas temperados e boreais e vivem significativamente menos, em média (186 ± 138 anos em comparação com 322 ± 201 anos fora dos trópicos).

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Esses padrões de longevidade e taxa de crescimento foram encontrados em florestas de todo o bioma mundial. Conforme se aproximava das regiões tropicais, mais quentes e com maior disponibilidade de água, havia um crescimento mais rápido das árvores, porém, essas mesmas espécies morriam mais rapidamente. Se, por um lado, elas usavam mais CO2 para realizar sua fotossíntese e crescer, cumprindo seu ciclo, por outro, morrem, devolvendo para a atmosfera todo o CO2 retido durante seu desenvolvimento.

O estudo analisou dados de florestas do mundo inteiro e nessas análises foi encontrado um valor crítico de temperatura média anual, que é o de 25.4˚C, acima do qual a longevidade das árvores tropicais diminui drasticamente. Na floresta amazônica, por exemplo, estudos mais recentes mostram que a temperatura ambiente vem se mantendo acima dessa medida já há algumas décadas. Já a floresta do Congo, na África Central, a segunda maior floresta tropical do mundo, terá temperatura acima dessa medida até 2050. Há evidências científicas recentes do aumento da mortalidade naquela região que não haviam sido observadas ao longo de décadas.

Como resultado secundário, mas não menos importante, devido ao desmantelamento atual dos órgãos ambientais de fiscalização de desmatamento e queimadas na região amazônica, também foi observado que a longevidade das árvores diminui consistentemente em áreas sob maior influência humana. Dados de monitoramento por satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) relatam aumento de 34% na taxa de desmatamento na Amazônia nos últimos 12 meses, comparado com o mesmo período do ano de 2019.

Anéis de crescimento

Giuliano Locosselli, pesquisador do Instituto de Biociências da USP e primeiro autor do artigo publicado na revista PNAS – Foto: Pesquisador

Para compreender a evolução do crescimento e longevidade das árvores, este estudo se baseou em centenas de trabalhos científicos nacionais e internacionais publicados nas últimas décadas. Todos estes trabalhos analisaram os anéis de crescimento que estão presentes no tronco das árvores. Cada anel corresponde a um ano de vida da árvore. “Se o anel de crescimento é largo, indica que a planta cresceu rápido, caso contrário, houve crescimento mais lento”, explica Locosselli. As análises do crescimento e longevidade foram feitas em mais de 100.000 árvores de 438 espécies.

Alguns caminhos que minimizariam as condições que estariam levando à morte precoce das árvores incluem a ampliação de políticas públicas ambientais, com foco no aumento do uso de energias renováveis, incentivo aos meios de transportes alternativos, diminuição de combustíveis fósseis e redução do desmatamento e das queimadas de florestas no mundo todo.

Mais informações: e-mail g.locoasselli@gmail.com, com Giuliano Locosselli


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