Pesquisa indica melhores fungos para obter enzima usada na indústria

Aluna de Ciências Biológicas identificou melhores fungos produtores de pectinases, largamente utilizadas nos setores de alimentos, têxtil e na agroindústria

 06/02/2019 - Publicado há 6 anos
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As pectinases podem ser utilizadas na indústria láctea – Foto: Dutch via Wikimedia Commons / CC0

Com a pesquisa Screening de fungos filamentosos voltados para a produção de pectinases, Inaiá Ramos Aguiar foi uma das cinco participantes da 26ª edição do Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (Siicusp), escolhida para apresentar sua pesquisa na Rutgers University, Estados Unidos, em abril. Outros cinco alunos vão apresentar seus trabalhos em março na Ohio State University, também nos Estados Unidos.

O estudo de Inaiá busca fungos bons produtores de pectinases, enzima largamente utilizada pelas indústrias de alimentos, têxtil, agroindústria e nutrição animal, entre outras. Inaiá é aluna do quarto ano do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, orientada pela professora Maria de Lourdes T. M. Polizeli, do Laboratório de Microbiologia/Biologia Celular (LMBC) do Departamento de Biologia da FFCLRP, e única representante do campus de Ribeirão Preto nos eventos nos Estados Unidos.

Pesquisa na vanguarda do “etanol de segunda geração”

Etanol – Foto: cassini83 via Wikimedia Commons / Domínio Público

A triagem de fungos no projeto de Inaiá, segundo a orientadora, foi iniciada a partir de pesquisas na literatura sobre fungos filamentosos bons produtores de pectinases e já prospectados, isolados e armazenados no LMBC. As pectinases podem ser utilizadas nas indústrias processadoras de frutas, na indústria láctea, de bebidas, de tabaco e na de produtos farmacêuticos e cosméticos. Portanto, “são grupos de biocatalisadores com grande interesse comercial e têm como os seus principais produtores os fungos filamentosos”, comenta a professora Maria de Lourdes.

Para o estudo foram escolhidos seis fungos: Neosartorya glabra, Aspergillus unguis, Aspergillus thermomutatus, Aspergillus sp, Fusarium lateritium e Eurotium chevalieri.  A partir de análises de atividade de pectinases em diferentes tipos de fermentação, três fungos foram selecionados, com sucesso, como excelentes produtores deste sistema enzimático em fermentação líquida, o Neosartorya glabra, Aspergillus thermomutatus e Aspergillus sp. “A produção de pectinases por estes fungos em fermentação líquida é rápida, atingindo um nível máximo em três dias”, diz Maria de Lourdes.

Detalhe de Aspergillus em um tomate – Foto: Multimotyl via Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0

A orientadora conta que a produção de pectinases utilizando a casca de maçã foi a que apresentou melhor resultado. Já com as cascas de laranja e limão, diz Maria de Lourdes, observou-se que houve produção de pectinases em menor proporção. “Estes resultados são interessantes”, antecipa a professora, “uma vez que foi confirmada a produção de enzima com várias aplicações industriais com baixo custo, já que cascas de citros são resíduos em geral descartados e que em grandes quantidades poluem o meio ambiente”.

Essa confirmação é interessante para a indústria, pois há possibilidade de uma maior aplicação desses fungos como ferramenta biológica. “Como perspectiva para os próximos passos, temos a inclusão das pectinases deste estudo em mistura com outras enzimas fúngicas que estão sendo produzidas no LMBC, como as enzimas lignocelulósicas, para observação de ação combinada entre as enzimas, uma ajudando a outra e cooperação na quebra dos resíduos agroindustriais, como o bagaço de malte proveniente de indústria cervejeira artesanal local e de bagaço de cana de açúcar de usinas da região de Ribeirão Preto. A formulação de um coquetel enzimático, com a associação de enzimas fúngicas, portanto, poderá contribuir para a produção de etanol de segunda geração.”

Fungos de todos os biomas do País

Um dos focos do LMBC é a bioprospecção de fungos filamentosos, visando à produção de enzimas com aplicação biotecnológica. Assim, a pesquisa está voltada para a procura de recursos bioquímicos ou genéticos com potencial de uso econômico e eventual desenvolvimento tecnológico, de forma legal e sustentável.

Inaiá Ramos Aguiar durante apresentação de trabalho na 26ª edição do Siicusp – Foto: arquivo pessoal

“Mais de mil fungos foram coletados de solos de todos os biomas do País, além de materiais em decomposição, restos de plantas e materiais exóticos do meio ambiente. Os fungos isolados encontram-se armazenados em condições apropriadas e estão disponíveis para estudos de enzimas com potencial biotecnológico, metabólitos secundários, produção de antibióticos, etc.”, conta a orientadora.

Segundo a professora, a produção de enzimas fúngicas vem sendo obtida por fontes de carbono não onerosas, como cascas de citros, farelos de soja, bagaço de malte, bagaço de cana de açúcar e de resíduos agroindustriais, por exemplo. “A agroindústria gera uma enorme quantidade de materiais residuais, cuja deposição no meio ambiente causa sérios problemas de poluição. A substituição dos componentes do meio de cultivo por resíduos industriais desencadeia um processo de produção ecologicamente correto e mais econômico, uma vez que se utiliza de matéria que seria descartada e se tornaria poluente para o meio ambiente e ainda substitui substratos químicos de alto custo para a produção de enzimas”, conclui.


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