
Como professores podem trabalhar a inclusão de jovens com síndrome de Down nas salas de aula? Para responder essa pergunta, André Catazone, representando a Associação Síndrome de Down de Ribeirão Preto (RibDown), se reuniu com licenciandos em Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP para uma troca de experiências.
No encontro, realizado no dia 18/3 e organizado pela professora Daniela Favacho, do Departamento de Química da FFCLRP, os estudantes fizeram questionamentos, considerando as experiências que tiveram durante estágios em escolas de Ribeirão Preto, e o jovem apresentou sua perspectiva sobre o ensino às pessoas com a síndrome através da própria vivência na escola.
Dentre os desafios que enfrentava no período escolar, estavam os próprios docentes. Ao Jornal da USP, Catazone explica que o ritmo acelerado das aulas e as habilidades pedagógicas dos profissionais (com explicações complexas) não se adaptavam a sua realidade. Um exemplo, apresentado durante o evento, foi quando tirou zero em uma prova, “não por falta de capacidade, mas pela falta de adaptação do professor” às necessidades do aluno.
Catazone informa que tinha mais facilidade quando o professor, em aulas de ciências, utilizava recursos visuais, atividades práticas e explorava espaços fora da sala de aula. Além disso, para o jovem, o bom professor precisa ter paciência e “não ficar irritado”, considerando que “cada pessoa tem seu tempo”.
Conscientização
Os licenciandos reconhecem a importância dos investimentos e da conscientização pedagógica em uma educação inclusiva. “Nós, como futuros professores, temos que conseguir, ou ao menos tentar, incluir todos os alunos em nossas aulas”, afirma a estudante Thainá Peralta, que estava presente na aula.

A aluna também alega que os depoimentos de Catazone oferecem uma nova perspectiva para a construção das atividades didáticas. Para ela, as palavras serão importantes “no momento de ver o aluno como pessoa e não como apenas um número dentro da sala de aula”.
Michelly Vaccari, psicóloga da RibDown, ressalta a relevância de criar espaços de diálogo como este, em que diferentes perspectivas se encontram. “O André tem o direito de estar em todos os lugares que desejar e ter sua voz ouvida é fundamental para reconhecer o outro, seus desafios e potencialidades”, afirma. Júlia Cintra Faria, também psicóloga da organização, complementa que a diferença “abre um leque de possibilidades de aprendizado e não deve ser vista como um obstáculo”.
Para Daniela, o objetivo da atividade foi alcançado e a experiência proporcionou aos alunos “uma maior conscientização sobre a inclusão”. A professora acredita que “estamos formando uma geração de futuros professores que construirão uma sociedade verdadeiramente inclusiva”. Para Catazone, a experiência foi “muito boa” e pôde ver que “os futuros professores querem ensinar.”
Sobre a RibDown
Catazone é autodefensor das pessoas com deficiência na região Sudeste e representa a cidade de Ribeirão Preto na RibDown. A associação é uma organização sem fins lucrativos que atua na defesa dos direitos das pessoas com Síndrome de Down e suas famílias. Dentre os serviços oferecidos, estão o acompanhamento psicológico, jurídico e social, além da promoção de atividades de inclusão social e profissional.
*Estagiário sob supervisão de Rosemeire Talamone