Além de decretar a obrigatoriedade do uso de máscaras e higiene das mãos, as autoridades mundiais cancelaram apresentações culturais presenciais para não gerar aglomerações e, consequentemente, novos casos da covid-19. Dessa forma, artistas, como os cantores clássicos, foram afetados pela impossibilidade de estarem no palco e interagirem com o público e colegas de profissão durante a pandemia.
Pesquisadores da USP em Ribeirão Preto descobriram que o isolamento social não teve impacto relevante nos aspectos emocionais e vocais de cantoras clássicas na quarentena. “Mesmo com a paralisação das atividades presenciais, as cantoras investigadas conseguiram manter um padrão de qualidade vocal por meio da dedicação nos estudos do canto”, conta a professora Lilian Neto de Aguiar Ricz, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e uma das autoras do trabalho Effect of Covid-19 Quarantine on Voice Handicap Index in Female Classical Singers.
As participantes possuem pelo menos um ano de experiência profissional na área do canto e o estudo revelou que, mesmo durante a pandemia, foi grande a dedicação das profissionais, com um tempo médio de seis horas semanais de estudos.
Além de desenvolverem técnica vocal e disciplina, os cantores clássicos trabalham com habilidades diversas, como atuação, coordenação corporal, apresentação e comunicação da emoção e do significado da música ao público; e mais, a capacidade de manter a sua saúde vocal e qualidade de vida é essencial para uma performance vocal de excelência. De acordo com Lilian, esses quesitos fundamentais para uma boa preparação para o palco justificam que esses profissionais não sintam, de tal maneira, o impacto negativo na voz profissional durante a quarentena.
Para obter esses resultados, os pesquisadores aplicaram um questionário autoavaliativo on-line de identificação e de informações, como tempo de experiência no meio musical, canto, estudo e ensaio para 55 cantoras clássicas. As participantes preencheram o protocolo Classical Singing Handicap Index (CSHI) adaptado para o contexto de pandemia. O material possui 30 questões divididas em três vertentes: incapacidade do domínio funcional; desvantagem do domínio emocional; e comprometimento do domínio associado à autopercepção das características da emissão vocal.
O estudo, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi publicado pelo Journal of Voice em dezembro de 2020. O trabalho também conta com a autoria da professora Maria Yuka de Almeida Prado, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), e dos pesquisadores Bruna Rodrigues Prior, da FMRP, e Jônatas Augusto Cursiol, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP), todos da USP.
Mais informações: liricz@fmrp.usp.br