Aplicativo permite acompanhar tratamento para tuberculose a distância

Sistema criado por pesquisadores da USP em Ribeirão Preto é considerado pela Organização Mundial da Saúde como uma das melhores e mais inovadoras iniciativas mundiais no combate à tuberculose no contexto da covid-19

 09/02/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 11/02/2021 as 10:03
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Aplicativo inova no atendimento à tuberculose durante a pandemia – Foto: Divulgação / FMRP

 

Um aplicativo desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP  para acompanhar o tratamento de pessoas com tuberculose reduziu em 43% a necessidade de visita domiciliar. Chamado de VDOT  ou “tratamento diretamente observado por vídeo”, o uso do sistema, segundo os pesquisadores, traz diversos benefícios, como manter a continuidade do tratamento supervisionado e a proteção de pacientes e cuidadores contra a covid-19.  No mês passado, a ferramenta foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das melhores e mais inovadoras iniciativas mundiais no combate à tuberculose, no contexto da covid-19.

Luiz Ricardo Albano dos Santos, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Foto: Reprodução / ResearchGate

O sistema estava sendo testado em estudos pilotos, antes da chegada da pandemia, e a proposta já era reduzir a necessidade de visitas presenciais do agente de saúde no domicílio do paciente para observá-lo tomando os remédios para a doença. Medida que também reduziria os custos com transporte e aumentaria a capacidade do agente de saúde de acompanhar um número maior de portadores de tuberculose em tratamento. “Desmascaramos alguns preconceitos ao longo do uso do VDOT. Por exemplo, a classe social não interferiu na capacidade de acesso ao monitoramento e descobrimos que a melhor maneira de garantir o uso adequado do aplicativo é fornecer treinamento para todos que desejam usá-lo”, afirma Luiz Ricardo Albano dos Santos, pós-graduando da FMRP e um dos autores do projeto. Em março de 2020 quatro unidades básicas de saúde (UBS) da cidade de Ribeirão Preto e o ambulatório de tuberculose do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) incorporaram o uso do aplicativo, agora para suprir uma limitação imposta pela pandemia.

Tratamento diretamente observado

Atualmente, pacientes com tuberculose que recebem o medicamento através do acompanhamento domiciliar (visitas) pelo agente de saúde tem chances muito maiores de se curarem da doença. Chamado de tratamento diretamente observado, do inglês directly observed treatment (DOT), é um protocolo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para aumentar a adesão ao tratamento e eliminar a doença do organismo. No entanto, após o início da pandemia da covid-19, praticamente todas as visitas domiciliares do DOT foram suspensas ou profundamente comprometidas por conta dos riscos associados. “Reside aí a importância do VDOT”, afirmam os pesquisadores.

O orientador atual do trabalho em nível de doutorado é o professor Valdes Roberto Bollela, responsável pela pesquisa no cenário clínico; a concepção da aplicação e orientação em nível de mestrado foi do professor Antônio Ruffino-Netto com o auxílio do professor Domingos Alves; todos da FMRP; além do apoio da pós-graduanda da Bioengenharia (FMRP, EESC e IQSC) Luana Michelly Aparecida da Costa; e da aluna Ana Clara Mirandolla Linardo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP); todos da USP.

Tuberculose ainda é uma realidade

A tuberculose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Apesar de ser comumente associada ao acometimento do pulmão, a doença pode afetar outros membros, como os rins e o sistema nervoso central. É transmitida pelo ar e pessoas infectadas podem ter tosse, febre, perda de peso, suores à noite e catarro que pode ser acompanhado por sangue.

“Apesar de dispormos de um tratamento efetivo para a doença há mais de 70 anos, ainda hoje a tuberculose é responsável pela morte de milhares de pessoas em todo o mundo, e uma das razões para a persistência deste quadro é a dificuldade que o paciente tem para tomar regularmente os medicamentos da TB durante os seis meses que são necessários para se obter a cura. Iniciativas que aumentam adesão ao tratamento estão entre as mais efetivas e são fortemente apoiadas pela Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde”, completa o professor Bollela.


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