Falta de notificação compromete o controle de casos de hepatite no Brasil

Julho é o mês de combate às hepatites virais com campanha que promove a conscientização sobre a doença, um grave problema de saúde pública no mundo

 Publicado: 23/07/2024
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Hepatites – Ilustração: Freepik
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Estamos no Julho Amarelo, mês de conscientização sobre as hepatites virais, e no próximo dia 28 é o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, uma doença séria e que precisa de conscientização sobre prevenção e tratamento, pois pode levar à morte. A cidade de Ribeirão Preto, por exemplo, registrou 701 casos de hepatite A, B e C em 2022; no ano seguinte, esse número diminuiu para 588 casos, de acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria da Saúde do município.

O documento ainda mostrou uma série histórica dos casos de dez anos anteriores em que, segundo a médica da Divisão de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, Rosamar Eulira Fontes Rezende, o número de casos tanto de hepatite B quanto de hepatite C também diminuiu. “Isso traz a reflexão se realmente estão diminuindo os casos ou se estamos testando e detectando menos, e ainda temos o problema da subnotificação”, afirma.

Além disso, a cidade registrou oito óbitos por hepatite C em 2022 e dez óbitos em 2023, sendo três por hepatite B e sete por hepatite C. A coordenadora do programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), Aids, Tuberculose e Hepatites Virais da Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto, Monica de Arruda Rocha, diz que “é necessário uma investigação para entender a causa dos óbitos, mas pode ser que tenham sido pessoas que tiveram mais de uma doença, sejam idosos, ou que cheguem tarde ao diagnóstico”.

No Estado de São Paulo, de acordo com a Secretaria de Saúde, houve uma redução de óbitos por hepatite, mas um aumento nos casos, entre 2022 e 2023. Foram 6.498 casos e 361 óbitos e 6.933 casos e 322 óbitos, respectivamente. Segundo Rosamar, esse aumento não é tão expressivo e pode ser que ainda seja um reflexo da pandemia, quando houve menos testagem e a população não procurava os serviços médicos. 

Já em relação ao Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, durante o período de 2000 a 2022 foram registrados 750.651 casos de hepatites virais, em média 34.120 casos por ano, sendo também a segunda principal causa infecciosa de morte no mundo, com 1,3 milhão de casos fatais por ano. Mas Rosamar alerta que esses dados são comprometidos em função da falta de notificação. Mesmo assim, a médica, que também atua como médica no Ambulatório de Hepatites Virais do Centro de Referência em Especialidades da Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto, acredita que é possível o Brasil alcançar a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de eliminação das hepatites virais, que é diagnosticar 90% das pessoas com hepatites, tratar 80% das pessoas diagnosticadas e reduzir em 90% as novas infecções e em 65% os índices de mortalidade até 2030. “Mas o caminho é longo e é necessário acelerar esse processo. Nosso País tem condições e ferramentas necessárias, temos vacinas e medidas preventivas, mas a grande dificuldade está no diagnóstico, garantindo que o paciente chegue ao serviço de saúde”, analisa.

Hepatites

As hepatites são transmitidas de diferentes formas pelos vírus A, B, C, D e E, e também podem ser desenvolvidas pelo uso de álcool, de alguns medicamentos e por doenças autoimunes, metabólicas e genéticas, levando a sobrecarga e inflamação do fígado. Além disso, a ingestão de água e alimentos contaminados de forma fecal-oral pode causar hepatite A, e também o contato com sangue pode causar as hepatites B e C. Rosamar lembra que também pode ser através de material perfurocortante, como agulhas, seringas, alicate de unha, escova de dente e por relação sexual sem preservativo. Outra via de transmissão, diz a médica, é por meio de mães portadoras de hepatite B e C para o recém-nascido durante a gestação ou no parto. 

Como forma de prevenção, é necessário fazer o esquema de vacinação completo para as hepatites A e B e se atentar às questões de higiene pessoal e saneamento básico. A especialista aponta que para hepatite A não existe tratamento, a maioria dos casos evolui para uma cura espontânea e para a hepatite B existe tratamento disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “É um tratamento que se tem um controle da replicação do vírus, diminuindo a chance da doença evoluir para formas graves, como para a cirrose ou câncer no fígado.” A médica afirma que a hepatite C também tem tratamento, com apenas três meses de medicações via oral e quase nenhum efeito colateral, com praticamente 100% de cura. 

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone

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