Atenção às singularidades femininas contribui para a ocupação de mulheres na ciência

As agências de fomento têm papel importante para impulsionar a equidade de gênero e devem incluir práticas que garantam o acesso e a permanência de mulheres na ciência

 05/04/2023 - Publicado há 1 ano
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Foto: William Fortunato/Pexels

Atuar na carreira científica requer esforço e tempo, seja do homem ou da mulher, mas algumas dificuldades são inerentes somente ao universo feminino. A celebração da participação de meninas e mulheres na ciência que acontece todos os anos, desde 2015, no dia 11 de fevereiro, dá luz para iniciativas que podem aumentar a presença feminina no mundo científico e garantir a equidade de gênero. 

A cada ano, a partir de inúmeros eventos promovidos pelas mais diversas instituições, aumentam as reflexões e discussões sobre o tema, segundo a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, Cristina Ribeiro de Barros Cardoso. “Trazer para o debate as dificuldades enfrentadas pelas mulheres é essencial para valorizar e romper barreiras que ainda dificultam a trajetória feminina nesse universo.”

A data é uma iniciativa da Assembleia das Nações Unidas e da Unesco e busca, além de incentivar, refletir sobre assuntos como a maternidade, a dupla jornada da mulher contemporânea e os diversos estereótipos que a rodeiam. Desafios que podem não ser suficientes para fazê-la desistir, mas exigem que ela enfrente obstáculos sequer existentes na vida de um homem. 

“O dia 11 é uma data muito importante, só a existência desse dia joga luz na possibilidade de que meninas possam ter uma carreira científica”, comenta Patrícia Nicolucci, professora do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

A maternidade e a ciência 

A escolha pela maternidade reflete nas diversas camadas da vida da mulher, e da mulher cientista não é diferente. “Um homem costuma nem ter que pensar se ele vai ter que escolher entre a carreira científica e a paternidade, só a menção a essa questão mostra uma diferença”, comenta Patrícia.

Da gestação aos primeiros anos de vida da criança, os diversos aspectos da maternidade revelam desafios que podem e precisam ser superados, pela sociedade e também pelas agências de fomento à pesquisa. 

Um relatório divulgado em 2023 e endossado pela coalizão de mais de 15 organizações em todo o mundo que representam as mulheres na ciência, liderada pela Mothers in Science (MIS), uma organização sem fins lucrativos que busca a equidade de gênero, descreve políticas para financiadores que podem ajudar a diminuir a discriminação de longa data contra mães cientistas.

O apoio financeiro e estrutural no período de licença-maternidade é um dos pontos abordados pelo relatório. A queda de produtividade pela mulher nesse período deve ser reconhecida e deve ser dada a ela a oportunidade de não parar o seu trabalho. Seja pela contratação de assistentes que a substituam nesse período ou com a flexibilização de prazos.

O relatório aponta no total seis áreas que podem ajudar a garantir a equidade de gênero: necessidade de apoio financeiro para garantir a continuidade da pesquisa, flexibilidade para pais e cuidadores, opção de trabalho remoto, sistemas para rastrear a diversidade e inclusão e sinalizar atos discriminatórios, simplificação do processo de candidatura a bolsas e entender o impacto desproporcional da pandemia da covid para as mulheres cientistas.

“Apesar dos avanços sociais dos últimos tempos, a gente sabe que a nossa sociedade é machista na essência. Nós gostamos de imaginar a ciência como um terreno livre, isento de preconceitos, mas na ciência não é diferente”, pontua Carolina Patrícia Aires, também professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

As mulheres no campus da USP em Ribeirão Preto 

No campus da USP em Ribeirão Preto, por exemplo, os números são otimistas. Dentre as oito unidades de ensino, sete disponibilizaram os números de discentes, homens e mulheres, incluindo o número de matriculados e docentes na graduação, além de matriculados e concluintes de pós-graduação (mestres e doutores).

Das sete unidades, apenas a Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) apresentaram uma porcentagem menor de mulheres em relação aos homens, 31% e 35,8% respectivamente.

As Faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCFRP), de Direito, de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP), de Medicina e de Odontologia, com os números apresentados, mostraram a existência de uma maioria feminina nas diversas categorias.  

No total, as mulheres são 40,7 % entre o corpo docente, maioria entre o corpo discente na graduação, 51,38%, e na pós-graduação representam 56,45% dos matriculados.

Ouça no player abaixo a entrevista à Rádio USP.

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