
As terras brasileiras, segundo dados da Embratur, receberam cerca de 5,91 milhões de turistas estrangeiros em 2023. Para atender todas essas pessoas existe uma extensa rede de trabalhadores. Ao analisar apenas o Brasil, vê-se que o setor foi responsável por gerar mais de 214 mil empregos em 2023, conforme o Ministério do Turismo. Tamanha é a importância do turismo na empregabilidade que ele é reconhecido no ODS 8 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da Organização das Nações Unidas, que trata do trabalho decente e crescimento econômico.
Embora esses números sejam altos, o trabalho na área turística ainda enfrenta questões como informalidade, salários baixos, dependendo do cargo, estereotipação, entre outros, diz Milena Manhães Rodrigues, doutoranda em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Amplo, mas com problemas
Trabalhar com turismo oferece diversas possibilidades em diferentes áreas: desde hospedagem, agenciamento, transporte, alimentação até eventos e planejamento turístico. “A maioria das vagas é temporária, tem alta rotatividade, baixa remuneração e extensa carga horária. Existe uma contradição entre a importância econômica e a prática da hospitalidade dos serviços prestados ao turista, frente à desvalorização dos trabalhadores”, explica Milena.

É nesse contexto que entram a informalidade e a flexibilidade das condições de trabalho, que acrescentam os problemas da terceirização no setor de eventos, a falta de vínculo empregatício de guias que atuam como autônomos, prestando serviços para agências de viagens, à equação do turismo.
Desvalorização
A pesquisadora comenta que, com vários cargos que não exigem muita formação, nem experiência prévia – como atividades de limpeza e atendimento ao cliente -, vêm os baixos salários, instabilidade, trabalhadores jovens atuando em atividades que consideram provisórias e desvalorização do trabalho feminino.
“No Brasil, ocupações ligadas à limpeza e governança são tradicionalmente desvalorizadas e com perfil feminino e recebem em média um salário mínimo, enquanto outros trabalhadores do turismo variam de dois a três salários mínimos”, acrescenta Milena. A diferença salarial e de posições ocupadas não fica apenas nesse recorte, ela também se reflete nos estereótipos, principalmente nas interações de gênero, classe, raça e etnia, idade e situação legal.
Mudanças
A relação entre o trabalho e o turismo é uma relevante pauta social e objeto de pesquisa. A pesquisadora cita, como exemplo, o Labor Movens – Condições de Trabalho no Turismo”, um Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão criado em 2020 na Universidade de Brasília.
Para Milena, a universidade tem a importante função de investigar essa área em constante atualização e mudança, “para que o turismo seja mais que um gerador de empregos: uma oportunidade de carreira”, ressalta.
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