Acompanhe a entrevista do repórter Fabio Rubira com o pesquisador Alexandre Uehara, do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP:
A Coreia do Norte anunciou, na semana passada, a realização de um quinto teste nuclear, saudado como bem-sucedido pelo regime comunista de Kim Jong-un, o que, mais uma vez, levou a comunidade internacional a reagir. De acordo com as agências de notícias, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) considerou o teste “uma flagrante violação de várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU”. Já o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que as provocações terão “consequências sérias”. Ele classificou o teste nuclear norte-coreano como “uma grave ameaça” à “segurança regional e estabilidade internacional”.

O pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Alexandre Uehara, coordenador do grupo de estudos sobre a Ásia, concorda com Obama nesse aspecto. Em sua opinião, a divulgação de mais esse teste nuclear pela Coreia do Norte tem o efeito imediato de causar instabilidade na região, trazendo preocupação sobretudo àqueles países que mais se sentem ameaçados por ela, como Coreia do Sul e Japão. Segundo Uehara, os recursos norte-coreanos são canalizados para o desenvolvimento da capacidade militar do país, à custa do sofrimento da população, que, desde o final da Guerra Fria, se torna cada vez mais empobrecida, da mesma forma que a economia norte-coreana já não pode contar com a ajuda da Rússia, como acontecia no passado. Com isso, o regime de Kim Jong-un passou a adotar a chantagem como moeda de troca em sua relação com a comunidade internacional, procurando, a partir de constantes e flagrantes violações de acordo, chamar a atenção para a fragilidade econômica do país.
Na verdade, acrescenta o pesquisador da USP, as sanções impostas à Coreia do Norte visam a isolá-la, mas surtem muito pouco efeito em um país que já se mostra extremamente isolado. Esse isolamento, diz Uehara, se explica por duas razões: impedir que as demais nações do planeta saibam o que acontece no interior do país e, ao mesmo tempo, impossibilitar a população norte-coreana de receber qualquer informação do mundo exterior, em um regime cuja ideologia tende a venerar e a idolatrar seus governantes como os grandes libertadores da nação.
Para Uehara, o grande temor é de que, em algum momento, o regime norte-coreano não consiga manter a atual situação e acabe sucumbindo à pressão interna. Isso poderia levar a uma manobra muito comum, já adotada por outros países, de apelar para uma instabilidade externa com o intuito de fortalecer e recuperar a credibilidade interna, iniciando um conflito de fato, em uma tentativa desesperada de sobreviver politicamente. Na opinião do pesquisador, trata-se de uma situação delicada e complexa, até porque não se sabe como a China e a Rússia poderiam reagir diante de uma ofensiva sul-coreana ou japonesa, em um tabuleiro no qual os Estados Unidos decerto não se recusariam a jogar.