O coronavírus, causador da doença covid-19, alcançou o patamar de pandemia na última quarta-feira (11) em um pronunciamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). Originada na China, a doença já chegou ao Brasil, com novos casos confirmados nos últimos dias. O governo da Itália, território mais afetado pela doença depois da China, colocou o país inteiro em quarentena para evitar maior propagação da doença. A ação do coronavírus, entretanto, vai muito além de uma questão de saúde pública, impactando diretamente a economia global. No Brasil, a cotação do dólar atingiu R$ 5,03 na manhã de quinta-feira (12), uma das maiores cotações da história.
Para conversar sobre o impacto do coronavírus no cenário internacional, o Diálogos na USP, apresentado por Marcello Rollemberg, recebeu o professor João Paulo Cândia Veiga — professor do departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e do Instituto de Relações Internacionais, também da Universidade de São Paulo –, e a economista Maria Antonieta Del Tedesco Lins, professora do Instituto de Relações Internacionais da USP e presidente da Comissão de Cooperação Internacional do Instituto de Relações Internacionais.
Como principal parceiro comercial do Brasil e com as atividades industriais ainda em processo de retomada, a China exerce grande influência na economia brasileira, como comenta o professor Veiga: “A China é um mercado de destino da soja, do minério de ferro e do complexo de carnes, então a queda da atividade chinesa vai impactar o comércio exterior brasileiro. Vai ter uma contração no mercado de créditos das empresas e o consumidor brasileiro certamente vai perder um pouco de confiança, com queda da demanda e menos investimentos estrangeiros diretos.”
Na última quinta-feira (12), a bolsa de valores brasileira, a B3, fechou com queda de 15%, acionando o circuit breaker por duas vezes, o que não acontece desde a crise de 2008. Ao comparar a crise atual com a crise de 2008, Maria Antonieta compartilha: “Tem uma característica muito importante que é o fato de que, dessa vez, a crise começa no setor produtivo e não no setor financeiro, e isso vai ter desdobramentos distintos e, portanto, isso é bom. O setor financeiro começando a crise, os efeitos podem ser muito mais nefastos sobre a economia mundial.”
Os professores também compartilham a importância das universidades em momentos de crise, principalmente no contexto de propagação de fake news, que aumentam o pânico da população frente à pandemia, como explica o professor Veiga: “Essa crise do coronavírus talvez seja a primeira pandemia de saúde nessa era do mundo digital, de todo mundo conectado, e o papel da universidade é separar conhecimento científico, fazer a ciência instrumentalizar a política da melhor maneira possível, para combater esse tipo de fake news e tudo que está por trás disso. Isso movimenta interesses. Vai precisar de muita regulação de autoridades para coibir essas iniciativas.”
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