Os últimos meses de 2022 devem movimentar de forma considerável a economia brasileira, dois grandes eventos que costumam causar impacto no consumo irão ocorrer quase simultaneamente. A Copa do Mundo de Futebol tem início no dia 20 de novembro, enquanto a Black Friday acontecerá no dia 25 do mesmo mês. Com isso, é provável que a proximidade dos eventos altere a lógica de produção e consumo no período.
É importante ressaltar que a situação é circunstancial. É a primeira vez que a Copa do Mundo irá acontecer entre os meses de novembro e dezembro. A decisão foi tomada considerando as condições climáticas do país-sede, o Catar, no meio do ano. Além disso, a competição só ocorre de quatro em quatro anos, ao passo que a Black Friday é anual.
Edson Crescitelli, professor do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP, entende que a sobreposição das datas pode ser vista de duas formas: “Ela pode potencializar, visto que você tem dois eventos grandes, porém, dois eventos grandes não significam necessariamente o dobro de oportunidades para as empresas, porque, por outro lado, esses eventos acabam meio que concorrendo entre si.”
De acordo com ele, isso vai exigir que, neste ano, as empresas adotem uma estratégia um pouco diferente da normalmente utilizada na Black Friday. A lógica deve ser outra justamente para não fazer com que a Copa do Catar atrapalhe o mercado ao invés de ser uma impulsionadora.
Consumo durante a Copa
A Copa do Mundo movimenta o mercado brasileiro em diversos âmbitos, em especial na compra de eletroeletrônicos, celulares, computadores, artigos esportivos e no consumo de alimentos e bebidas. As empresas que desejam aproveitar a Black Friday devem considerar esse cenário. “O momento gera um dilema, porque, se as empresas antecipam para pegar antes da Copa, elas esvaziam a Black Friday. No entanto, se elas esperam a Black Friday para fazer isso, pode ser que esvazie porque as pessoas vão querer comprar antes da Copa do Catar”, comenta o professor.
Crescitelli diz que a tendência é que as empresas sejam flexíveis ao nome Black Friday. O que surgiu como apenas um dia de ofertas deve ser modificado na prática para que o início da Copa seja aproveitado: “Eles vão começar a antecipar por causa da Copa do Mundo. Então, eles vão colocar a semana da Black Friday ou a Black Friday antecipada e tentar deslocar um pouco mais para poder aproveitar antes do início da Copa.”
Para ele, o consumidor que estiver disposto a investir em compras para a Copa do Mundo do Catar deve comprar antes do início da competição. O torneio é curto e, mesmo que o Brasil seja um dos favoritos, não há como garantir que a equipe chegue à final. Desse modo, é provável que as compras sejam pensadas previamente.
O esporte costuma mobilizar boa parte do público a assistir às partidas com amigos e familiares. Assim, o consumo em bares e restaurantes também deve ser diferente. Além disso, é comum que esses locais aproveitem a Black Friday para atrair clientes, oferecendo promoções e descontos. Nesse sentido, “a sobreposição não é tão boa para o varejo quanto se fosse separada, porque ele poderia ter casa cheia no meio do ano com a Copa do Mundo e teria casa cheia com a Black Friday. Então, é diferente, ele não vai conseguir potencializar”, indica o professor.
Planejamento dos varejistas e consumidores
As diferentes motivações entre os dois eventos podem complicar o planejamento dos varejistas. Na Black Friday, a motivação está baseada nos descontos, já na Copa do Mundo são priorizados bons equipamentos para assistir aos jogos, ou seja, uma televisão nova, um sofá novo ou mesmo um celular melhor para poder assistir às partidas em trânsito. É possível que o varejo não precisasse vender produtos com ofertas para a Copa se ela fosse realizada em julho.
A proximidade com o Natal é outro fator que deve alterar a lógica de consumo. Crescitelli comenta: “Essa overdose de motivação que vai acontecer em novembro vai seguramente deslocar as vendas de final de ano. Ela vai antecipar, porque isso vai acontecer um mês antes do Natal. É provável que esse movimento vá esvaziar um pouco as compras de Natal, porque quem comprou um eletrodoméstico ou um móvel na Black Friday não vai repetir a compra no final do ano.”
As diversas motivações de compra no mês de novembro afetam as vendas de Natal, visto que o dinheiro do consumidor é o mesmo. Com isso, o período com diversos atrativos exige organização. “A recomendação para o consumidor é que ele faça um planejamento único. Se ele pensar nessas três datas de uma forma integrada, ele vai conseguir se planejar melhor para não falar ‘gastei todo meu dinheiro em novembro, agora tenho que comprar presente de Natal e não tenho mais’. Então, ele deveria planejar um pouco e eventualmente até comprar os presentes de Natal na Black Friday, porque o dinheiro dele é o mesmo.”
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