O extrato de própolis, substância extraída da resina da abelha, possui propriedades anti-inflamatória, imunomoduladora, anticâncer e antioxidante, bem como demonstrou ter efeito antiproteinúrico em modelo experimental de doença renal crônica. Estudo clínico buscou avaliar as propriedades da substância no tratamento da doença. No Brasil, 120 mil brasileiros fazem hemodiálise e o própolis pode ser um tratamento complementar para esses pacientes. Para entender melhor, o Jornal da USP no Ar conversou com Marcelo Augusto Duarte Silveira, nefrologista do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP e participante do Grupo de Insuficiência Renal Aguda e Hemodiálise.
A perda de proteína na urina e o aumento do mecanismo de inflamação são alguns dos marcadores de progressão da doença renal crônica. Ambos tiveram boa relação com o própolis. “Avaliamos 32 pacientes. Percebemos um resultado muito positivo, com redução do marcador inflamatório e uma menor perda de proteína, evitando que 40% de proteína fosse perdida. No início eles perdiam cerca de 1.000mg/dia. Ao final de 12 meses passaram a perder cerca de 600mg/dia”, conta Silveira.
A doença renal crônica tem como duas principais causas a diabete e a pressão alta, então o paciente tem que tomar medicamentos para controlar ambas também. Assim, o própolis seria um tratamento coadjuvante, complementar, que “age imunomodulando um fator de transcrição dentro do núcleo da célula que produz localmente marcadores inflamatórios. Ela age como uma via em que as outras medicações não agem”, explica o médico.
A pesquisa, que teve início em 2015, utilizou o extrato de própolis verde como base de padronização. Este é apenas um dos 13 tipos de própolis existentes no Brasil, que variam de acordo com o clima e mata da região. O consumo da substância foi feito por meio de comprimidos, desenvolvidos a partir de uma parceria com a Apis Flora, de Ribeirão Preto.
“Um fato interessante é que a abelha utiliza o própolis para proteger a colmeia, e nele não cresce fungo nem bactéria”, afirma o pesquisador. Ele complementa dizendo que se trata de uma substância milenar. “Nas guerras greco-pérsicas, era utilizada para tratar feridas de soldados. No século XVII, já fazia parte de medicamento oficial em Londres. Então é algo bem antigo e utilizado por diversos povos ao redor do mundo, para diferentes finalidades.”