Possibilidade de produção de alimentos em locais extraplanetários é um feito grandioso da ciência

Especialistas comentam sobre relevância do estudo que traz ineditismo por tratar da possibilidade de se plantar em locais extremos, como a Lua

 15/07/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 29/07/2022 às 17:15
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Fotomontagem com imagens PxHere – Arte: Jornal da USP
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Pela primeira vez na história, cientistas plantaram amostras retiradas do solo lunar. O experimento, realizado em laboratório, contava com aproximadamente 12 gramas retirados das missões Apollo 11, 12 e 17, e tem como pano de fundo os estudos sustentados pela nova corrida espacial, em uma tentativa de facilitar as idas ao espaço.

Fábio Rodrigues – Foto: Arquivo Pessoal

“Estamos a um passo de o ser humano conseguir viver longos períodos fora da Terra, em uma estação espacial, plantando seu próprio alimento. Mesmo apresentando condições distintas, tanto o solo lunar quanto o solo marciano têm potencial em termos de produção de alimentos fora da Terra”,  comenta o professor Fábio Rodrigues, do Instituto de Química (IQ) da USP, ao analisar a possibilidade do plantio em locais extremos. 

Para a realização do estudo foram utilizados exemplares de Arabidopsis thaliana, planta muito utilizada em experimentos e que, por isso é conhecida com uma espécie de “mosca de fruta” da botânica. A escolha se deu por ela ser de menor porte, correspondendo ao volume de amostra de solo disponível para a realização da pesquisa. No entanto, Carlos Takeshi Hotta, também professor do Instituto de Química da USP, diz que haveria a possibilidade de cultivar plantas como espinafre, que são mais “tolerantes a sais minerais”. 

Foi justamente essa tolerância que se levou em conta durante a pesquisa, na qual se observou que as plantas “cresciam muito estressadas” em função da composição química do solo lunar, bastante rico em minerais como o ferro e tóxico para plantas. O professor Hotta destaca também que substâncias como o perclorato acabam dificultando ainda mais o plantio extraplanetário. “A questão é conseguir descobrir quais plantas sobreviveriam nas condições lunares, para depois também buscar e desenvolver plantas que sejam mais resistentes [a esses ambientes]” complementa ele.

A possibilidade de cultivo em solos extraplanetários não se resume ao satélite natural da Terra, mas é parte de um estudo maior, que busca aumentar o conhecimento em botânica espacial e o lançamento de bases para este cultivo, visando ao fornecimento de oxigênio e comida fora do planeta. A previsão é que a Lua seja um dos primeiros ambientes a serem explorados, para depois se chegar a outros, como o solo marciano. 

Importância do estudo

Carlos Takeshi Hotta – Reprodução/IQ-USP

Carlos Hotta afirma que “quanto mais a gente consegue aprender sobre as plantas, mais estaremos preparados para garantir a nossa segurança alimentar. Essa pesquisa também pode garantir a nossa sobrevivência num futuro distópico”. 

As pesquisas sobre produção de alimentos em locais extraplanetários avançam e se diversificam à medida que novas tecnologias surgem nesse campo. Para Fábio Rodrigues, outros desdobramentos virão a partir deste estudo. Ele destaca “a possibilidade de produção de alimentos em locais extraplanetários, de CO2 e de oxigênio, para respirarmos e para a produção de bioinsumos”. 


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