Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 vai mapear mortalidade materna durante pandemia

Lançado em abril passado, o observatório divulgará dados considerados importantes não só para a população em geral, mas também para que os governantes pensem e tomem medidas e políticas públicas para frear o avanço da pandemia e da mortalidade, inclusive de grávidas

 20/05/2021 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 17/06/2021 às 19:55
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Grávidas com covid-19 têm maior chance de óbito – Arte de Lívia Magalhães com imagens de Pixabay e Flaticon

O número de mortes de gestantes e puérperas mais que dobrou neste ano em relação ao ano passado. Em 43 semanas de pandemia, em 2020, a média semanal de óbitos deste grupo foi de 10,5. Já em 2021, a média por semana chegou, até o início de abril, a 25,8, em apenas 14 semanas epidemiológicas, segundo dados do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19).

Esse cenário tem assustado as grávidas, que imaginavam, como a maioria dos brasileiros, que 2021 seria um ano livre ou quase sem pandemia, como é o caso da mamãe de primeira viagem Daniela Pontes. “Nós adiamos o plano da gravidez no ano passado justamente por causa da pandemia, mas acabou acontecendo e eu senti muita insegurança por engravidar neste momento”, conta Daniela, que descobriu que estava grávida em janeiro deste ano, “quando parecia que as coisas iriam melhorar”. Mas, ao invés de melhorar, tudo se agravou ainda mais no Brasil e passar pela gravidez nesta situação “foi bem angustiante”, relata Daniela.

Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19

Rossana Pulcineli Vieira Francisco – Foto: Reprodução/Fapesp

Divulgar dados como esses do OOBr Covid-19 é importante não só para a população em geral, mas também para que os governantes pensem e tomem medidas e políticas públicas para frear este avanço da pandemia e da mortalidade, inclusive de grávidas. E foi o que fez a professora Rossana Pulcineli Vieira Francisco, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina (FM) da USP, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Com o objetivo de divulgar os casos e as mortes por covid-19 entre gestantes e puérperas no Brasil, surgiu o Observatório Obstétrico Covid-19, lançado em abril deste ano. Conta Rossana que foi possível observar um aumento importante da mortalidade materna, muitas vezes superior ao aumento de mortalidade da população em geral – dados mais recentes, publicados neste mês, mostram que o número de óbitos de gestantes em 2021 já superou a marca atingida em todo o ano de 2020.

Vacinação de gestantes e puérperas

Os números apresentados pelo observatório mostram também a importância da  vacinação de gestantes e puérperas no Brasil. Mas a vacinação desses grupos causou polêmica recentemente. É porque a imunização desse grupo precisou ser suspensa após uma recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que orientou que a vacina da AstraZeneca/Fiocruz não fosse aplicada em gestantes após a morte de uma grávida que recebeu o  imunizante. Após a suspensão, alguns Estados, como São Paulo, por exemplo, optaram por retomar a vacinação deste grupo, com as vacinas Coronavac e da Pfizer, mas só para gestantes e puérperas com comorbidades, único caso em que o Ministério da Saúde aprova o uso nestas mulheres.

Silvana Maria Quintana – Foto: Reprodução/Fapesp

Grávidas e puérperas são consideradas grupo de risco da doença, como explica a professoras Silvana Maria Quintana, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. “As gestantes têm um risco maior de necessitar de internação e até intubação. Além disso, como isso caracteriza um caso grave, elas têm maior chance de óbito.”

Embora raro, Silvana conta que é possível que a mãe transmita a doença para o recém-nascido, inclusive, no momento da amamentação. “A gestante pode transmitir para o filho, mas a taxa é baixa e não temos observado problemas graves nos recém-nascidos de mães que estavam com covid-19 na gestação ou no momento do parto”, destaca. “Entretanto, é importante lembrar que também existe a transmissão pelo contato com a mãe durante a amamentação”, alerta a professora.

Ansiedade na gravidez

Daniela, que no ano passado adiou a gestação, acreditando na melhora da pandemia, e engravidou em janeiro deste ano, conta que, além das recomendações básicas, como distanciamento social, higiene das mãos e uso de máscaras, a orientação de sua médica foi para “não surtar”. Jornalista de formação, ela diz que foi aconselhada a não ler jornais ou assistir a noticiários, tudo para manter uma boa saúde mental durante sua gravidez.

Grávida de um menino, Caetano, a futura mamãe diz que é preciso “tentar criar uma bolha de bem-estar”. Sem poder ver a família com a mesma frequência de antes, e com notícias ruins surgindo a todo o momento, ela se blinda curtindo o sonho que tanto esperou. “Apesar de toda essa tensão, a gravidez continua sendo um momento mágico e especial.” 


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