Transformar o indivíduo em protagonista da própria saúde e bem-estar é o objetivo de uma medicina já ensinada nas escolas médicas brasileiras. Trata-se da área que propõe o uso terapêutico do estilo de vida para promover e recuperar a saúde das pessoas, conta João Paulo Dias Souza, professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
A abordagem, segundo Souza, é eficaz no tratamento de doenças crônicas, trabalhando nutrição, atividade física, sono, controle de substâncias tóxicas, manejo do estresse e relacionamentos saudáveis. Colocar em prática esse tipo de medicina, no entanto, é um desafio que a universalização do acesso à prática enfrenta, afirma Souza.
O professor usa as doenças crônicas como exemplo e diz que medicamentos e cirurgias, estratégias mais comuns da medicina convencional, “oferecem uma solução, na maior parte das vezes, paliativa e não de cura”. Já a medicina do estilo de vida desperta o paciente para a relação entre seus comportamentos e hábitos, aqueles que impactam diretamente sua saúde e “coloca, claramente, a pessoa como um agente da sua própria cura”.
Por outro lado, Souza demonstra preocupação ao considerar que “a adoção de um estilo de vida saudável depende de acesso a determinadas condições que parte grande da nossa população não tem”, como alimentos frescos e de boa origem e a rotina de exercícios físicos. Situação que, segundo o professor, dificulta a adoção universal da medicina do estilo de vida, apesar de todos os seus impactos positivos à saúde.
Medicina do estilo de vida na graduação
A abordagem terapêutica não consta como disciplina específica dos cursos de Medicina da FMRP e da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, mas ainda assim está integrada à graduação, informam seus coordenadores.
“Ela está presente em quase todas as abordagens de doenças quando se trata de fatores de risco para as mesmas e também de como preveni-las, ou seja, o assunto está presente dentro do currículo da nossa faculdade”, explica Júlio Cesar Moriguti, coordenador da Comissão Coordenadora do Curso de Medicina e professor do Departamento de Clínica Médica da FMRP. Segundo Moriguti, os estudantes de Medicina compreendem a prática terapêutica do estilo de vida ao notar que diversas doenças podem ser evitadas com o controle de fatores de risco, que “passam pela mudança de estilo de vida”.
Na experiência de Marcelo Causin Benedeti, aluno do quinto ano de Medicina da FMRP, o contato com a medicina do estilo de vida acontece em diversos momentos da graduação. “Nós vemos isso repetidas vezes em diferentes especialidades médicas e com diferentes abordagens”, o que é “muito enriquecedor e muito eficaz para o aprendizado”, afirma.
Integração de conhecimentos no ensino médico
Para Luiz Fernando Ferraz da Silva, coordenador do curso de Medicina da FOB e professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (FM) de São Paulo, ambas da USP, não há separação entre a medicina convencional e a medicina do estilo de vida, mas, sim, uma integração dos conceitos.
“A medicina que a gente diz ‘mais tradicional’ e que está muito mais relacionada aos tratamentos medicamentosos e procedimentais, na verdade, ela acaba se beneficiando muito”, ao passo que também há benefícios para a medicina do estilo de vida, diz o professor. É que “a alteração do estilo de vida por si só não é suficiente para você lidar com todas as situações e com todos os problemas”, explica Silva, defendendo que são conceitos complementares em que o “segredo está justamente na integração desses processos”.
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