Novo bloco representa guinada geopolítica latino-americana

Segundo professor, não tem como dizer que o Prosul será sem ideologia, apenas uma ideologia diferente

 04/04/2019 - Publicado há 6 anos
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jorusp

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O presidente Jair Bolsonaro e representantes de outros sete países sul-americanos assinaram documento com proposta para a criação do Prosul, Foro para o Progresso e Desenvolvimento da América Latina, que visa à construção de relações baseadas no livre comércio. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, prometeu que o novo bloco será uma entidade sem ideologias nem burocracia. Além de Brasil e Chile, compõem o bloco: Argentina, Paraguai, Equador, Colômbia, Peru e Guiana. O fórum tem por objetivo substituir a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008 por 12 países sul-americanos.

O Jornal USP no Ar conversou com o professor Amâncio Jorge Silva, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, a fim de esclarecer as consequências da criação do Prosul, além da dinâmica de funcionamento das diversas organizações regionais já existentes na América Latina.

Abertura do fórum que discute a criação do Prosul, nova comunidade de países latino-americanos que deverá substituir a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) – Foto: Marcos Corrêa / PR via Agência Brasil

A Unasul era fundamentalmente um foro político de negociação das mais diferentes ordens. Com a situação crítica da Venezuela e a mudança de tom dos políticos da América do Sul, decidiu-se criar o Prosul, que é a representação do esvaziamento da Unasul, explica o professor. “Então é uma mudança de orientação ideológica. Não tem como dizer que é ‘sem ideologia’, apenas uma ideologia diferente.”

O Mercosul é uma união aduaneira, ou seja, um acordo de livre comércio. Já o Prosul, como a Unasul, são foros políticos de negociações e não possuem integração propriamente econômica, expõe Jorge Silva. No entanto, “o Mercosul se coordenava pela Unasul, agora será pelo Prosul”.

É fundamental a existência de foros para gerir situações de crise internacionais; no caso do Prosul, a resultante é um isolamento profundo da Venezuela, aponta o professor. Em tese, o Brasil possui o papel de mediador no conflito venezuelano, mas na prática não é bem assim. Jorge Silva explica que governos anteriores tinham um claro posicionamento chavista, enquanto o novo governo reconheceu Guaidó.

Para além da Venezuela, o bloco de negociação possui um amplo escopo de possibilidades, como a integração de infraestrutura, tratados políticos e econômicos, além da aproximação do Mercosul com a Aliança do Pacífico. A agenda do Prosul está em construção, finaliza Jorge Silva.

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