Nova corrida espacial continua concentrada nas mãos das maiores potências

De acordo com André Roberto Martin, a corrida espacial atual será uma disputa triangular entre Estados Unidos, Rússia e China

 12/07/2022 - Publicado há 2 anos
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Fotos: Freepik e Wikimedia Commons

 

Em 2021, a China lançou em órbita o primeiro módulo da sua estação espacial Tiangong, ou “Palácio Celestial”. Esse é um passo recente para ela se tornar uma superpotência espacial. O país ainda planeja adicionar um laboratório científico à estação, além de um telescópio espacial para manutenção e reabastecimento. 

A China é o terceiro país na história a explorar o espaço. Tal feito só foi possível antes pelos Estados Unidos e pela Rússia, ex-União Soviética, durante a Guerra Fria. O professor de Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, André Roberto Martin, relembra a corrida espacial a partir dos anos 1950, que foi parte da disputa pela hegemonia mundial entre os sistemas capitalista e socialista: “Foi um momento em que percebeu-se que o aspecto espacial era muito importante para haver uma liderança militar, de modo que a corrida espacial, no fundo, é apenas um estratagema para se obter uma vantagem tecnológica e militar sobre as outras potências”. 

A China também foca em desenvolver satélites que poderão ajudar seu território em propósitos militares, como guiar mísseis e espionar potências rivais. Outro país nesse caminho é a Coreia do Sul. No entanto, Japão, Índia e Emirados Árabes Unidos também estão trabalhando em missões à Lua e já é possível afirmar que o mundo vive uma nova corrida espacial. 

André Roberto Martin – Foto: Flickr

Nesse cenário, várias tecnologias estão sendo desenvolvidas. As missões poderão examinar o ambiente lunar e criar protótipos com objetivos diversos, que até poderão ajudar na corrida em relação a Marte. Segundo Martin, as tecnologias criadas servem como uma demonstração de poder por parte das nações, as quais disputam entre si uma questão de prestígio. “A Coreia do Sul  está entrando na corrida espacial por quê? Para se contrapor à sua vizinha Coreia do Norte, que tem bomba atômica”, argumenta.  

Corrida para poucos

A corrida espacial também se relaciona com a qualidade do estudo acadêmico. O professor cita a disciplina de Astropolítica, a qual analisa a transferência da disputa geopolítica do ambiente terrestre para o espaço sideral: 

“Quem tem condições tecnológicas de entrar nessa corrida vai mostrando que tem um sistema de pesquisa, de universidades, muito bem desenvolvido.”

O Tratado do Espaço Sideral da ONU de 1967 prevê que o espaço não pode ser reivindicado por nenhuma nação, e o Acordo da Lua de 1979 diz que o espaço não pode ser explorado comercialmente. Mas os Estados Unidos e a Rússia se recusaram a assiná-lo. Enquanto isso, o Estado americano está desenvolvendo o Acordo Artemis, para que os países possam explorar a Lua cooperativamente, consequentemente a Rússia e a China também não devem assiná-lo. 

O professor reconhece que a corrida espacial ficará concentrada nas mãos das maiores potências, ou seja, será uma disputa “triangular” entre Estados Unidos, Rússia e China. 

“Há um custo econômico muito alto para manter a pesquisa aeroespacial. Isso limita muito a capacidade dos países. Por isso eu vejo que os pequenos países terão maior dificuldade para conseguir se manter nessa corrida”, pondera.  

Martin também reconhece a capacidade brasileira. Para ele, o Brasil possui competência técnica e condições industriais para se inserir na corrida, além de uma dimensão continental suficiente para sustentar os aportes de tecnologia. Ele finaliza: “Tudo depende da vontade política, que parece que a gente não está tendo, como se observou com a alienação da soberania nacional na base de Alcântara, que hoje está controlada pelos Estados Unidos”.  


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