Não existem soluções mágicas para a Cracolândia, diz professora

Cássia Baldini Soares, da Escola de Enfermagem da USP, falou sobre o drama da Cracolândia

 07/06/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 09/06/2017 às 12:39
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Cracolândia, um triste espaço de vício e tráfico de drogas no centro da maior cidade da América do Sul e da quarta maior de todo o mundo. Cracolândia, um nome pejorativo, cuja fama, com uma pequena/grande ajuda da mídia, estendeu-se para muito além de São Paulo. Cracolândia, um nome que se fixou na opinião pública como sinônimo de desamparo, desesperança,  solidão e abandono social. No entanto, as coisas nem sempre funcionam de acordo com uma lógica simplista e funcional.

A professora Cássia Baldini Soares (Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP) diz que o senso comum se engana ao pensar que a droga tem o poder de levar as pessoas a situações indesejáveis. Não é assim que acontece. São poucas as pessoas que estão na Cracolândia pelo fato de terem começado a usar drogas pura e simplesmente. Se assim o fizeram, certamente isso se deveu a um problema não resolvido em suas vidas, a um mal-estar que as acompanha. Pesquisas mostram que isso acaba por se tornar uma forma de sociabilidade, “de girar uma certa economia ilegal, informal, que faz com que as pessoas se virem naquelas condições precárias de trabalho e vida”.

Cracolândia, na região central de São Paulo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Por sua vez, o Estado falha ao não controlar esses espaços adequadamente – quando há um controle, este se dá de forma violenta, geralmente motivado por interesses de ordem econômica. No caso da Cracolândia, há o interesse da Prefeitura de melhorar a região, de realizar projetos que atraiam investimentos para aquele ponto específico da cidade.

A professora Cássia reconhece que se trata de um problema de difícil solução, que não admite soluções mágicas, mesmo porque internar os dependentes, contra sua vontade, nem sempre é o certo a fazer. “Internar em comunidades terapêuticas é algo muito controverso. Sabe-se que não chega a 10% o número de pessoas que, ao passar por essas situações, têm uma recuperação.” O setor de saúde deve, sim, tentar acolher e se aproximar dessas pessoas em situação de vulnerabilidade, mas sempre apelando para uma abordagem humanista, para que elas também possam se inteirar de sua real situação e buscar formas de abandonar a vida que estão levando.

Ela acredita que a academia poderia contribuir com o poder público no sentido de oferecer uma solução para o problema, mas revela que falta a necessária sintonia para que isso realmente ocorra. “Há um descompasso entre o que é evidência científica e o modo como as legislações são feitas e operadas”, diz.

 


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