
Foto: Jörg Peter por Pixabay
A liberdade religiosa na Europa é cada vez mais debatida. Sob o argumento de combate ao extremismo e reafirmação da laicidade, diversos países europeus, principalmente a França, adotam leis que interferem na prática religiosa e contribuem com a intolerância na relação entre europeus e muçulmanos.
Desde o surgimento do Islamismo, no século 7, muçulmanos e católicos travaram uma série de batalhas em busca de expansão territorial. Entretanto, a relação entre os povos não foi feita somente de conflitos. Arlene Clemesha, do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, afirma que olhar para essa relação a partir dos conflitos faz parte de um senso comum, já que o convívio harmonioso também ocorreu e foi muito frutífero para o florescimento cultural.
Para Arlene, os conflitos contemporâneos entre europeus e muçulmanos têm origem no contexto colonial. “Os principais países europeus foram grandes colonizadores das regiões árabe-islâmicas”, afirma. “Houve toda uma justificativa ideológica que acompanhou esse movimento econômico e político de colonização”, completa. Foi construído um estereótipo do muçulmano como selvagem e atrasado, o que serviu de pretexto para a colonização europeia.
De acordo com Francirosy Barbosa, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, a produção cultural também trabalhou na construção desses estereótipos. “Tudo tem envolvimento de um árabe muçulmano, que vai roubar, sequestrar e ser o homem-bomba”, afirma.
Os ataques de grupos fundamentalistas contribuíram com o estereótipo e incentivaram a crescente islamofobia por trás das leis de caráter anti-Islã. Para Francirosy, essas medidas refletem o desejo de parte da sociedade em dar um sinal de que muçulmanos não são bem-vindos na Europa.
A lei mais recente nesse sentido foi adotada na Suíça e proíbe a utilização, em ambiente público, de adereços que cubram o rosto. Dessa forma, o país se tornou o sexto na Europa a proibir o uso de burcas e niqabs, vestes típicas de mulheres praticantes do Islã. Há ainda outras leis mais explícitas, como a proibição de que as mesquitas façam os chamados para oração através dos minaretes.
Francirosy comenta que esse tipo de medida alimenta a intolerância e a desinformação por trás da islamofobia. “É importante a gente buscar o conteúdo e as informações corretas”, diz. “A gente precisa tirar esse estereótipo de terrorismo e mulheres oprimidas, o Islã é uma religião que valoriza o conhecimento”, finaliza.
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