Filme retrata a crise do petróleo que atravessa décadas

Marília Fiorillo comenta sobre filme “Syriana”, produzido em 2005, que trata sobre política, petróleo, e injustiça social

 15/07/2022 - Publicado há 2 anos

Na coluna Conflito e Diálogo desta semana a professora Marília Fiorillo fala que a pandemia continua à solta no Brasil e, apesar das recomendações dos médicos, as pessoas relaxaram e muita gente abandonou as máscaras, vacinas e o distanciamento social, contaminando-se e contaminando os outros. É bom lembrar que a atual variante, embora menos letal, é grave, pois as sequelas podem se manifestar anos depois. Ficar o máximo de tempo recolhido em casa, para quem pode, ainda é a melhor pedida. Dá inclusive para rever o filme Syriana, de 2005, produzido e estrelado por George Clooney. Atualíssimo, é uma lição fascinante sobre política, petróleo e injustiça social. Adaptado das memórias de um antigo agente da CIA, Robert Bear, trata, em linhas gerais, da disputa entre China e EUA por uma refinaria de petróleo em um país do Golfo Pérsico.

Daí derivam os subtemas: as monarquias corruptas do Golfo, a interferência da CIA e sua prática de assassinar a torto e a direito o terrorismo e o fracasso da tentativa de exportação dos modelos de democracias ocidentais. O que torna esse filme de suspense especial é a complexidade da teia de relações envolvidas. Congressistas e advogados cuja maquinação ilegal é acobertada, em Washington, e a contrapartida da exploração brutal dos trabalhadores imigrantes islâmicos pelas ditaduras islâmicas do Golfo. Há duas cenas que desnudam uma situação pouco abordada: os containers onde moram os imigrantes, em beliches que lembram os campos de concentração, e a surra que pai e filho paquistaneses levam dos seguranças da companhia petrolífera por conversar na fila. Não falta um Iman fundamentalista – vale rever seu inspirado e assustador discurso na mesquita – nem um aliciador de jovens suicidas, cuja missão é facilitada pela truculência e humilhação a que os trabalhadores são submetidos.

Numa trama paralela, um consultor financeiro de Genebra vive sua tragédia particular e vê frustradas suas tentativas de se aliar a um possível líder reformista, destronado pelo pai, que prefere o filho estroina e incapaz. Syriana é uma aula de realismo político, na qual inexiste qualquer escrúpulo e as pessoas (trabalhadores, agentes da CIA e congressistas, sem discriminação) são totalmente descartáveis. Uma das frases de um político norte-americano extremista de direita, ao final sacrificado pelo bem maior que é a vitória nos negócios é ironicamente lapidar. “Corrupção? Corrupção é o mecanismo de intervenção do Estado para regular o mercado. Isso é Milton Friedman. O cara levou o Prêmio Nobel. As leis que temos contra isso só servem para nos safarmos.”


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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