Muito novo para o clínico geral e muito velho para o pediatra. Essa é a realidade do adolescente, que vive uma complexa fase não apenas social, psicológica e fisiologicamente, mas também no sistema de saúde. É para isso que existe a hebiatria, um ramo da pediatria que ganhou força nos Estados Unidos a partir da década de 1950, mas foi reconhecido pela Associação Médica Brasileira (AMB) apenas em 1998. E embora 25 anos seja bastante tempo para a formação de novos hebiatras, a realidade é diferente. Segundo o jornal Estado de Minas, são apenas 200 médicos que atuam neste ramo em todo o Brasil, o que evidencia uma lacuna dos 10 aos 20 anos, faixa etária que representa aproximadamente 15,5% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que significa cerca de 31,5 milhões de pessoas.
Formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o médico pediatra Luiz Roberto Verri de Barros, que atende na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Lobato, em Ribeirão Preto, explica: “Hoje em dia, a gente forma o pediatra com noções, ele pode acompanhar a hebiatria tranquilamente. Mas existem os hebiatras. Tem uma colega de turma, formada há 40 anos, que atua na área. Ela se coloca no atendimento ao público em hebiatria mesmo”.
Por outro lado, Verri enxerga um panorama de crescimento no número desses médicos em um futuro próximo. “Agora a gente tem formado (hebiatras). Mesmo os pediatras antigos, como eu, começaram a ter instruções a esse respeito para trabalhar também com a hebiatria. Inclusive, a gente trabalha aqui na UBS nas terças e quintas pela manhã e nas sextas à tarde”, informa.
Embora o número de profissionais que trabalha exclusivamente com adolescentes tenha uma projeção de crescimento para os próximos anos, muitas pessoas sequer sabem da existência desse tipo de médico. Essa questão também tende a mudar, na visão do pediatra, por conta da visão mais atenta que as famílias têm dado a temas como saúde mental e adolescência como um todo.
A hebiatria pede mais espaço
“É necessário que (os adolescentes) tenham seguimento nessa área. Estimular para que eles venham para a consulta, porque a adolescência ficou uma faixa de idade meio sem dono, vamos dizer assim. Para o clínico era muito novo, para o pediatra era muito velho, e os problemas dessa idade são bem específicos. Envolve mudanças no comportamento, envolve situações de ansiedade e depressão”, alerta.
Verri acrescenta que essa é uma faixa etária que precisa de muita atenção sobre os recursos que o jovem adquire para se desenvolver de maneira saudável. Ele cita, ainda, questões recorrentes que envolvem o aspecto psicossocial. “São problemas em relação ao convívio na sociedade, ao convívio familiar, essas mudanças que vão acontecendo, o luto da infância, porque deixa de ser criança e passa a ter uma mente mais elaborada, procurar uma religião, procurar um grupo para se manifestar.”
O especialista também lembra que é nessa fase da vida que começam os namoros e “o desenvolvimento sexual, toda essa parte que precisa de alguém para fazer os aconselhamentos, orientar, negociar com eles uma situação mais tranquila da vida”.
Campanhas de conscientização
Verri finaliza ao ressaltar a importância das campanhas de conscientização sobre diversos problemas. Um dos mais conhecidos entre a população jovem é o Setembro Amarelo, um programa de prevenção ao suicídio criado em 2015. Mas vale destacar que existem outros movimentos do tipo e que os adolescentes “justamente entram em todos, não precisa ser só da adolescência, mas a questão do tabagismo, a questão da obesidade, prevenção do câncer. Toda essa parte o adolescente está sujeito a ter acesso a informações para se prevenir”.
*Estagiário sob orientação de Ferraz Junior
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