Intensificação da vacinação pode colocar economia de volta aos eixos

De acordo com Sérgio Sakurai, a economia funciona em círculo, a vacinação faria a recuperação dos setores mais prejudicados estimular outros setores a retomarem suas atividades

 05/04/2021 - Publicado há 4 anos
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Primeira vacinada em Ribeirão Preto – Foto: Alexandre de Azevedo/ Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto

Os efeitos da vacinação da população brasileira não são sentidos apenas na saúde das pessoas, mas também na economia do País. Já é consenso entres economistas que, quanto mais cedo as pessoas forem vacinadas, mais cedo a economia volta à normalidade, com a retomada da atividade industrial, dos serviços e do comércio e, consequentemente, o crescimento econômico se torna mais efetivo.

É com essa lógica que muitos economistas e analistas apontam que se 70% da população brasileira tiver sido vacinada até agosto, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano terá um aumento de dois pontos percentuais, saltando de uma previsão de 3,5% para 5,5%. 

Sérgio Sakurai – Foto: FEARP-USP

A relação de causa e efeito entre a vacinação e a economia tem algumas explicações, segundo o professor Sérgio Sakurai, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP. Especialista em Métodos e Modelos Econométricos, o professor cita dois canais que permitiriam que a economia melhorasse em caso de uma vacinação mais rápida da população. O primeiro é o nível de consumo. “As pessoas consumiriam mais produtos e serviços que hoje elas consomem menos ou não consomem em função do fechamento de algumas atividades”.

O segundo canal, de acordo com Sakurai, seria do ponto de vista da produção. Para ele, a intensificação da vacinação ajudaria a economia a retomar seu padrão normal de funcionamento mais rápido. “A produção das empresas aos poucos voltaria ao seu ritmo normal. A própria contratação dos fatores de produção, que são capital e trabalho, voltaria aos seus níveis normais.”

O professor lembra que o crescimento que houver este ano deve apenas recompor as perdas, ou parte delas, do PIB, que recuou 4,1% no ano passado em relação a 2019, segundo o Boletim Conjuntura Econômica, deste mês, produzido pela FEA-RP. “Trata-se do pior desempenho em 24 anos.”

Os setores que tendem a ser mais beneficiados com a retomada da economia são os mais prejudicados na quarentena, segundo o professor, como comércio e serviços. Para ele, a economia, como funciona em círculo, faria a recuperação desses setores estimular outros setores a retomarem suas atividades, como a indústria e até mesmo o agronegócio, único setor que se mantém imune à pandemia.

Vacinação intensa

Fernando Bellíssimo Rodrigues – Foto: FMRP-USP

O consórcio de veículos da imprensa apontou que, no dia 22 de março, 12,8 milhões de pessoas tinham tomado pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, uma cobertura de apenas 6,04% da população brasileira. Será que nesse ritmo de vacinação é possível chegar em agosto com 70% da população imunizada? O infectologista Fernando Rodrigues Bellissimo, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, acredita que sim, mas para isso é preciso investimento e coordenação.

“O Brasil tem capacidade técnica operacional para vacinar até 1 milhão de pessoas por dia contra a covid-19. A grande limitação nesse momento é que não temos vacina suficiente para aplicar nessa velocidade.”

O professor diz que é preciso investimento coordenado do governo federal com os Estados para adquirir essas vacinas e organizar a logística para distribuir em todo o Brasil. “Quando falo num esforço coordenado entre Federação e Estados, eu penso em garantir a equidade do processo. Particularmente me desagrada o fato de Estados e municípios quererem comprar por fora, digamos assim, do Programa Nacional de Imunização, suas próprias doses, porque isso vai perpetuar no Brasil o que vemos no mundo, ou seja, nações mais ricas vão comprar mais doses e as mais pobres têm dificuldades de obter vacinas. Algum Estado do País tem condições de competir com São Paulo, por exemplo? Os Estados mais pobres correm o risco de ficar para trás na vacinação da população”, conclui o professor.


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