Hospital das Clínicas criou primeiro implante brasileiro para glaucoma

Além de já ter realizado mais de 1200 implantes, USP também inovou ao mostrar que pico de pressão é o fator mais importante para avaliar e tratar doença

 10/09/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 12/09/2019 às 19:32
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No mundo, existem aproximadamente 11 milhões de pessoas cegas de ambos os olhos e 20 milhões cegas de um olho em decorrência do glaucoma. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, são registrados 2,4 milhões de novos casos no mundo. Para os portadores de glaucoma, uma linha de pesquisa da USP identificou o pico pressórico (pressão ocular mais elevada durante o dia) como o fator mais importante para a progressão da doença e uma maneira simples de avaliá-la. A pesquisa obteve grande importância e repercussão no meio científico. O Jornal da USP no Ar conversa com o professor Remo Susanna Júnior, do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP.

A visão é responsável por 90% da comunicação com o mundo exterior, sendo extremamente importante na formação dos indivíduos. Por isso, é fundamental que se tenha conhecimento de que a visão perdida pelo glaucoma não será mais recuperada, apesar de todo o conhecimento científico disponível atualmente, mas evitável na grande maioria dos casos, desde que diagnosticada precocemente e tratada corretamente. No entanto, o doutor Susanna Júnior explica que o glaucoma crônico de ângulo aberto, forma mais comum da doença, “é totalmente sem sintomatologia”, ou seja, “o paciente não sente absolutamente nada”, de tal modo que a doença avança silenciosamente, sendo diagnosticada apenas na sua fase avançada.

O glaucoma é diagnosticado em exames de rotina, no chamado exame de fundo de olho. “Antigamente, o diagnóstico era realizado pela pressão (ocular)”, explica Susanna Júnior, e continua: “Acima de 21 milímetros de mercúrio (mmHg) de pressão ocular, o paciente era diagnosticado com glaucoma; abaixo disso, não.” Esse procedimento mostrou-se extremamente falho, já que aproximadamente 64% dos pacientes com glaucomas têm menos 21 mmHg de pressão ocular, pondera o professor. Hoje, o diagnóstico é realizado observando o nervo óptico: “Se ele (nervo) está danificado e com as características da doença, o paciente tem glaucoma”.

O Early Diagnotic Program (EDP) é o programa mais célebre para o diagnóstico do glaucoma. Desenvolvido pela USP, foi o EDP que alterou o enfoque do diagnóstico, antes feito pela pressão, para o nervo óptico. “O programa foi apresentado em Paris, no ano de 2003. Em 2005, já estava sendo utilizado em toda Europa. No ano de 2006, passou a ser utilizado, também, nos Estados Unidos”, comenta Susanna Júnior sobre o sucesso do projeto desenvolvido pela Universidade, e acrescenta: “Até hoje é considerado a forma mais eficaz para diagnosticar o glaucoma”.

A partir do diagnóstico realizado pelo EDP, outras medidas devem ser tomadas, como a documentação dos estágios de perda de visão e a consolidação da própria diagnose. Como o glaucoma “rouba” a visão, monitorar a frequência e intensidade desse “roubo” é fundamental. Para isso, são realizados os exames de campo visual e a Tomografia de Coerência Óptica (OCT), que determina a quantidade de nervos ópticos.

O pico pressórico, ou pico de pressão, é o fator mais importante no tratamento do glaucoma. Até pouco tempo, o pico de pressão ocular era olvidado, o que resultava em diagnósticos equivocados. “Antes, pensava-se que a flutuação da pressão durante o dia era o fator mais importante”, lembra o professor, e avança: “Mas não há como medir a flutuação no consultório. O médico precisaria medir a pressão por nove meses, fazer a média, levantar o desvio padrão, isso é impossível.” Joseph Caprioli, o pai da flutuação da pressão, passou a atestar, este ano, que o pico pressórico, de fato, é o mais importante. Levantamento realizado, primeiramente, pela USP.

Devido à flutuação da pressão, o médico pode acabar errando o diagnóstico de seu paciente. A primeira linha para o tratamento do glaucoma são os colírios. “Ao medir uma pressão de 18 mmHg, é receitado um colírio”, discorre Susanna Júnior, e prossegue: “Depois, o paciente volta com a pressão de 14 mmHg”. Não há como saber se o medicamento realmente manifestou efeito, ou se a pressão apenas flutuou. Agora, uma vez detectado o pico de pressão, é possível ter essa certeza, pois ele é constante.

Susanna Júnior esclarece que o “pico é o fator mais deletério do glaucoma”. Sendo assim, o objetivo do tratamento é diminuí-lo até a chamada “pressão alvo”. Para esse fim, os colírios são a primeira linha de tratamento. Não funcionando, a segunda opção é uma técnica que utiliza o laser: a trabeculoplastia, um procedimento que reduz a pressão ocular, mas que funciona em apenas 50% dos pacientes. Além disso, a trabeculoplastia pode perder seu feito em até 10% ao ano.

Caso a doença permaneça avançando, pode-se ocorrer aos procedimentos cirúrgicos. A trabeculectomia é o padrão ouro, isto é, a cirurgia mais eficaz para o glaucoma. Ainda assim, a doença pode persistir e o paciente recorrer ao implante de glaucoma. O professor do Departamento de Oftalmologia destaca a importância da Universidade nesse aspecto: “A USP criou o primeiro implante brasileiro para o glaucoma”. Esse fato barateou o custo do procedimento, favorecendo a população com menor renda. “Já foram mais de 1200 implantes (de 2018 para cá)”, salienta o docente.

O glaucoma incide, majoritariamente, a partir dos 40 anos de idade, o que não torna a população mais jovem imune, há ocorrência da doença aos 25 anos – até menos. Susanna Júnior recomenda uma visita ao oftalmologista, no mínimo, uma vez ao ano.


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