
Luis Arce, do MAS (Movimento para o Socialismo), ao renovar as Forças Armadas da Bolívia, realiza seus primeiros movimentos como novo presidente do país. Apoiado por Evo Morales, de quem foi Ministro da Fazenda e da Economia e Finanças Públicas, ele chega ao cargo prometendo austeridade e investimentos públicos. O professor Everaldo de Oliveira Andrade, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, classifica o posicionamento de Arce como “contraditório”.
“O presidente eleito tem uma longa carreira no Banco Central, estudou no exterior e é muito comprometido com a austeridade, o que é muito preocupante se você pensa em um governo que visa à ampliação dos direitos”, analisa Andrade.
Apesar de pregar a responsabilidade com as contas públicas, o presidente tem defendido, por exemplo, a retomada da industrialização, políticas de substituição de importações e políticas de soberania em relação aos recursos naturais.
Além disso, Luis Arce assegura que irá buscar unidade nacional, planejando aliar políticas públicas e setor privado para trazer a recuperação econômica ao país; segundo Andrade, em uma tentativa de isolar a extrema-direita no cenário político da Bolívia e ganhar apoio dos setores mais moderados. No entanto, ainda de acordo com o especialista, tal discurso é “mais uma das contradições do MAS, um partido da esquerda moderada que tenta conciliar o inconciliável, o interesse de grandes empresários com o das massas populares”.
O Movimento para o Socialismo retorna à chefia do Executivo após grande reviravolta política que tem início no ano passado. Depois de conseguir, via Judiciário, autorização para disputar as eleições de 2019 para seu quarto mandato, Evo Morales venceu o pleito. Entretanto, diversos setores políticos, inclusive a Organização dos Estados Americanos (OEA), acusaram fraude no processo, o que levou o candidato eleito a renunciar. Um ano mais tarde, o MAS volta a vencer as eleições.
“Essa votação representa uma vitória do povo boliviano, a reafirmação da democracia e a derrota das forças golpistas, que, no ano passado, impediram que a vitória de Evo Morales fosse concretizada”, comenta Andrade.
A vitória de Luis Arce se soma aos triunfos de Alberto Fernandez, na Argentina, e de López Obrador, no México, ao configurar uma mudança drástica no contexto político da América Latina. Se, na última década, verificava-se um crescimento no número de candidatos ligados à centro-direita e à direita vencendo eleições presidenciais, como Maurício Macri, na própria Argentina, Horácio Cartes, no Paraguai, e Jair Bolsonaro, no Brasil, agora as chapas progressistas parecem retomar sua relevância.