Economistas propõem alternativas à austeridade fiscal

Cícero Araújo diz que sem investimento estatal, há inibição da economia, e consequente diminuição da arrecadação

 07/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 08/08/2019 às 13:53
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Ao colocar em dúvida alguns dos pressupostos da teoria econômica ortodoxa, a teoria monetária moderna (conhecida pela sigla em inglês MMT) ganhou espaço na discussão econômica dos Estados Unidos. No Brasil, a teoria passou a ter destaque nas discussões macroeconômicas com a publicação de artigos do economista André Lara Resende. Uma oportunidade de conhecer melhor as ideias do economista será o seminário Neoliberalismo e Macroeconomia, nesta quinta-feira (8), às 14h, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O evento é organizado pelo Grupo de Pesquisa Neoliberalismo, Subjetivação e Resistências do Instituto de Estudos Avançados (IEA).

A MMT, originalmente, é desenhada para países soberanos, que têm consequentemente moedas fortes. Estados Unidos da América e o dólar; Reino Unido e a libra; Japão e o iene. Como os valores dessas cédulas é consolidado, e o Estado Nacional tem por natureza o direito de emissão monetária, o governo teria prerrogativa de controlar a disponibilidade de dinheiro para  facilitar o crescimento econômico, ou garantir o pleno emprego. “Não dá para comparar o dólar com a moeda do Chipre, que é uma pequena ilha. Mas, entre elas existe o real (Brasil), o yuan (China), o rublo (Rússia) que têm seu peso na economia mundial. A questão é, qual seria o peso certo para vencer a crise atual?”, questiona Cícero Araújo, professor do Departamento de Ciência Política, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e moderador do Seminário.

Segundo Araújo, a MMT ressurgiu da inquietação proveniente da crise de 2008. Na Europa, a receita da economia ortodoxa, a austeridade, não mostrou resultados claros. A criação de uma moeda única do bloco econômico, o euro, diminuiu a margem de manobra dos bancos centrais de países mais periféricos, como Grécia, Portugal e Itália. “A população percebe no cotidiano quando a política de cortes não funciona. O pensamento clássico propõe que ao retirar o investimento público, abre-se um espaço para a iniciativa privada. Porém, sem financiamento estatal, há uma inibição da economia como um todo, e uma consequente diminuição da arrecadação tributária”, explica o professor, conforme a teoria.

“O Lara Resende percebeu esse movimento. Em razão da ineficiência da economia ortodoxa nos quadros atuais, buscou diálogos com teóricos norte-americanos. Eles repensam o papel da moeda e da dívida pública. Assim, são contrapostos diversas perspectivas do neoliberalismo, em busca de novas alternativas”, conta o cientista político. O economista brasileiro foi uma das referências do mainstream econômico nacional, conhecido pelo seu apego aos ajustes ficais e ao sustento do tripé macroeconômico do governo de Fernando Henrique Cardoso (câmbio flutuante, metas fiscais e metas de inflação). Hoje, ele estuda novos sustentáculos para o desenvolvimento.

No Brasil, a política de austeridade começou ainda no segundo governo de Dilma Rousseff. Quando Temer assumiu, em plena crise, o arrocho fiscal tornou-se mais rigoroso. “Paulo Guedes, no governo de Jair Bolsonaro, propôs reformas ainda mais radicais. A esperança é que agentes privados e internacionais intercedam. Enquanto isso, a dívida pública aumentou, a arrecadação caiu. A economia está deprimida. Por que não dá certo?”, indaga Araújo.

“A ideia da MMT é mostrar que conduzir a economia de um Estado Soberano é diferente das contas domésticas. Países não têm limites financeiros. É um pensamento contra intuitivo, mas que já se mostrou eficiente”, aponta o cientista político. Nos Estados Unidos, a teoria ficou famosa pela boca do economista do Partido Republicano Alan Greenspan. Ele participou dos governos Ronald Reagan, George H. W Bush, Bill Clinton e George W. Bush. Agora, a MMT é uma bandeira da esquerda do Partido Democrata, nos discursos de Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez.

Refletindo sobre o neoliberalismo como forma de sociedade, sob o recorte da teoria monetária moderna, o IEA oferece o seminário. Além de André  Lara Resende, estará presente a economista da Unicamp Simone Silva de Deos. Para se inscrever e acessar mais informações acesse este site.


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