Em artigo publicado no períodico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), Rafael Prieto-Curiel, pesquisador do Complexity Science Hub, em Viena, na Áustria, analisou coordenadas e a superfície de 183 milhões de edifícios em quase 6 mil cidades do continente africano. O trabalho constatou que, ao duplicar seu tamanho, as cidades triplicam o seu gasto energético relacionado à mobilidade.
Para estudar uma área tão grande, os cientistas utilizaram a base de dados Open Buildings, do Google, que detém o contorno dos diversos edifícios das cidades analisadas. Com a ajuda de ferramentas de inteligência artificial, os pesquisadores puderam processar toda essa informação. O modelo criado permitiu a quantificação do formato dessas cidades.
Segundo a arquiteta e professora do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica (Poli) da USP, Karin Marins, “cumprida essa etapa, houve um esforço bastante significativo no sentido de estabelecer também as relações matemáticas” entre os parâmetros presentes no estudo. De acordo com ela, “as cidades africanas são um grupo de desenvolvimento urbano que se destaca pela velocidade de crescimento populacional e de transformação do ambiente natural em ambiente construído”.
A especialista explica que, conforme o artigo, quanto mais as cidades crescem, maiores são as distâncias que devem ser percorridas pela população, o que aumenta os gastos de energia com mobilidade. Sobre isso, a docente alerta que, “quando falamos de energia não podemos falar somente de fontes energéticas, nós estamos falando de transportes e não podemos falar simplesmente da oferta de novos meios de transporte,” precisamos olhar para a “composição do tecido urbano”.
Na visão da professora, o desafio exposto pela pesquisa requisita uma resposta global, já que os impactos ambientais do crescimento urbano na África afetam o mundo inteiro. Para ela, “uma grande quantidade de energia e uma grande população vão requerer padrões novos de uso da tecnologia e padrões novos de mobilidade urbana”. Por isso, ao encaixarmos esse problema no debate mundial de sustentabilidade, será possível enfrentá-lo de maneira adequada.
Para ela, as conclusões do trabalho abrem a porta para solução de problemas não só na África, mas em todo o mundo. “Cada situação merece uma nova simulação, adaptações, etc. Mas esse estudo demonstra que existem relações entre indicadores e parâmetros de áreas supostamente isoladas”, sugere.
Errata: A professora Karin Marins é arquiteta e não engenheira. O texto foi atualizado em 17/04/2023, às 13h23