Com milésimo transplante de fígado, Instituto da Criança alerta para a importância da doação de órgãos

A técnica utilizada na cirurgia da menina Alice, de 5 anos, foi a intervivos, que é a alternativa, segundo Ana Cristina Tannuri, para o transplante realizado por doação de órgãos após a morte do doador

 28/06/2023 - Publicado há 1 ano
Os transplantes hepáticos, cirurgias consideradas complexas, começaram graças à contribuição de doadores cadavéricos – Foto: Alfredo Fernades/Agecom
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O Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP é o primeiro serviço público de transplante hepático do Brasil e é referência na América Latina. A técnica intervivos, utilizada nas cirurgias, representou 90% dos transplantes realizados em 2022. A menina Alice, de 5 anos, foi a paciente a receber o transplante de número mil. Ela é portadora da cirrose por deficiência de alfa 1, uma condição rara.

“Em 1989, o Instituto da Criança começou a realizar transplante hepático na criança como única alternativa de tratamento para algumas patologias graves da infância que evoluem para cirrose, como a doença da Alice, a deficiência de alfa 1-antitripsina, uma deficiência enzimática, e outras como atresia de vias biliares, e para doenças como hepatite fulminante, que são doenças agudas que levam à insuficiência hepática”, explica Ana Cristina Aoun Tannuri, chefe do Serviço de Cirurgia Infantil e Transplante Hepático do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Intervivos

Os transplantes hepáticos, cirurgias consideradas complexas, começaram graças à contribuição de doadores cadavéricos, ou seja, aqueles que evoluem para a morte encefálica e doam um pedaço do fígado para o paciente criança. Porém, a falta de oferta desses doadores no Brasil tem impactado a realização de cirurgias para os que necessitam delas. Como alternativa, existe a técnica intervivos, a mesma utilizada no transplante de Alice. “Uma pessoa saudável, geralmente mãe, pai ou alguém da família, é submetida a uma cirurgia em que se retira o lado esquerdo do fígado, que para o adulto não faz falta e para a criança é mais do que suficiente.” Segundo Ana Cristina, a cirurgia é “motivo de muito orgulho da nossa instituição”.

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Para se avaliar a possibilidade de transplante, o doador passa por diversos exames, como tomografia, ressonância magnética e exames de sangue. “A primeira coisa quando se faz um transplante intervivos é sempre garantir que a pessoa que doa, que é uma pessoa a princípio saudável, que não precisa ser operada, corra o menor risco possível”, diz a médica.

Acompanhamento pós-transplante 

Após uma cirurgia desse porte, o paciente, independentemente da idade, deve ser acompanhado por toda a vida. “A pessoa precisa tomar o imunossupressor, um remédio para evitar a rejeição, e esse remédio acaba baixando a imunidade, o que leva à predisposição a infecções que uma pessoa saudável não teria. Ela tem que se cercar de alguns cuidados, tomar as medicações da forma correta, na hora adequada, ter condições de higiene mais restritas”, explica Ana Cristina. Esses cuidados garantem a qualidade de vida e a retomada da rotina: “A gente tem um monte de pacientes que foram transplantados no início do programa que já estão casados, têm filhos, então a pessoa tem uma vida praticamente normal”. 

Importância da doação de órgãos

Mesmo com o sucesso do serviço de transplante no Brasil, existem ainda alguns empecilhos, como a recusa da família no oferecimento de doadores de órgãos. “Muitas pessoas evoluem para morte encefálica, muitas poderiam ser candidatas à doação, só que muitas vezes isso não ocorre.” Ana Cristina acrescenta que o sistema de transplantes do Brasil apresenta resultados extremamente positivos por conta de sua qualidade, mas que a porcentagem de doadores cadavéricos aproveitados ainda é baixa. 

A conscientização sobre esse assunto é fundamental. “Muitas vezes, um paciente em morte encefálica pode salvar a vida de sete pessoas, porque pode doar os rins, o coração, o pulmão, o fígado” (…) “É importante que a população se conscientize em relação à importância da doação de órgãos. Na nossa instituição, a alternativa é o transplante intervivos, mas à medida em que mais pessoas tiverem essa consciência, que a doação, no casos de doadores cadavéricos, for uma coisa feita numa escala maior, a gente vai poder salvar mais vidas e eventualmente proceder ao transplante com doador cadavérico ao invés do doador vivo. E, com isso, poder salvar o maior número de pessoas portadoras de doenças que precisam de transplante no nosso país”, conclui a médica.


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