Desde o começo de 2018, a disputa comercial entre Estados Unidos e China vem preocupando a todos, e não é para menos. Com a desculpa de querer proteger os produtores americanos e reverter o déficit comercial com a China, o presidente Donald Trump vem anunciando, desde o ano passado, tarifas sobre produtos importados do país asiático.
Já o governo chinês tem reagido com retaliações, também impondo tarifas sobre produtos americanos. Nessa disputa entre a primeira e a segunda economias do mundo, a preocupação é a de que, se os dois países sofrerem consequências negativas nessa disputa, outros países e a economia global possam ser impactados em uma reação em cadeia.
Neste mês de agosto, as tensões pioraram, já que a disputa passou de ameaças sobre novas tarifas para o campo cambial. Em reação à ação americana, a China desvalorizou sua moeda e foi acusada de manipulação cambial. No Brasil, por exemplo, o dólar disparou.
Mesmo um aspecto que pode parecer positivo para a economia brasileira tende a ser perigoso. Um dos principais produtos agrícolas brasileiros, a soja, se tornou um ponto de tensão entre Donald Trump e o governo chinês. Em retaliação à alta de tarifa sobre bens industrializados da China, o governo de Xi Jinping passou a tributar em 25% diversos produtos agrícolas americanos, entre eles, a soja. Quem acabou ganhando com isso foi a soja brasileira, já que a China substituiu o grão americano pelo brasileiro, o que não agradou Trump.
Para falar sobre a disputa comercial entre Estados Unidos e China e sua influência na economia mundial, o Diálogos na USP, apresentado por Marcello Rollemberg, recebeu Alexandre Uehara, professor do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), além de membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP e pesquisador Sênior do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (Nupri), onde coordena o Grupo de Estudos sobre Ásia; e o também professor da FFLCH e do Instituto de Relações Internacionais (IRI), além de cientista político, João Paulo Cândia Veiga, pesquisador do Centro de Estudos das Negociações Internacionais (Caeni).
Alexandre Uehara contextualizou a história da economia chinesa e comentou que houve momentos em que as potências foram aliadas e, em outros, inimigas. Na década de 70, o país asiático passava por uma reforma em sua economia, o que possibilitou que atingisse um novo patamar, sendo visível o crescimento a partir da década de 80. Nos anos 90, a China foi convidada a participar da Organização Mundial do Comércio (OMC) e hoje encontra facilidade ao lidar com o mercado internacional, o que amedronta os Estados Unidos.
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O crescimento chinês gerou preocupação devido às previsões de onde o país governado por Trump ficaria em comparação. Hoje, o país apresenta um crescimento de aproximadamente 7% ao ano, valor significativo em escalas econômicas. Para evitar a alta da China, os EUA passaram a pressionar o outro país, marcas vistas no atual governo americano, para assim ter a competição facilitada, reforçando a influência do fator geopolítico nas relações globais.
João Paulo Veiga relembra o fato de que a China passou uma década ofertando produtos provenientes de mão de obra barata, mas diz que tal fase ficou no passado. Hoje, o país possui um plano de desenvolvimento fundamentalmente tecnológico, deixando de ser uma guerra comercial pura e simplesmente, passando para uma disputa tecnológica, a qual é baseada na economia digital. “A China tem vantagens competitivas e os Estados Unidos percebem isso e estão reagindo”, completa o pesquisador. Além disso, o país asiático, hoje, fornece a maior parte dos equipamentos de infraestrutura de telecomunicação do mundo.