Ausência de mulheres na arbitragem chama atenção na Copa do Mundo

Além da ausência nos gramados russos, o gênero representa menos de 40% do quadro de árbitros da Fifa

 10/07/2018 - Publicado há 6 anos
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Foto: Tania Dimas via Pixabay – CC

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A Copa do Mundo na Rússia está quebrando paradigmas relacionados ao sexo feminino, como, por exemplo, a narração dos jogos, quando Brasil e o Reino Unido tiveram as primeiras mulheres no comando de algumas transmissões. Já
 a Argentina contou com Viviana Villa, como primeira comentarista mulher da América Latina, fazendo análises das partidas na televisão pela Fox Sports e Telemundo.

A representação feminina na Copa vai além, pois a comissão técnica croata conta com uma mulher na equipe, responsável por gerenciar a seleção masculina do país. Contudo, ainda existe uma área no Mundial em que as mulheres não conseguiram ser representadas: trata-se da arbitragem. E a mudança desse cenário parece estar longe de acontecer.

De acordo com o professor Rafael Pombo Menezes, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, em outros esportes a separação de gênero está cada vez mais comum em competições internacionais, principalmente nas de futebol.  “Nos últimos anos, parece que os homens apitam competições masculinas, e as mulheres apitam competições femininas, principalmente em competições da Fifa.”

Nesta edição do torneio, na Rússia, a observação do professor se confirma. Foram convocados 36 árbitros de vários países, todos do sexo masculino. Não há uma representação feminina nem mesmo no VAR (sigla em inglês para árbitro de vídeo), recurso implementado pela primeira vez no maior torneio de futebol do mundo.

A explicação para a ausência feminina é mais complexa do que homens apitarem competições masculinas e mulheres as femininas. Começa pela diferença de participantes dos gêneros no quadro de árbitros da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Segundo matéria do UOL, atualmente, no quadro de arbitragem da entidade máxima do futebol, são 1.076 homens e apenas 426 mulheres, ou seja, elas representam menos de 40% da arbitragem da entidade e, das poucas que podem atuar em competições masculinas, nenhuma está no topo do ranking de suas federações nacionais.

A interpretação nesse caso é que entre os melhores árbitros de futebol do mundo, não existe nenhuma mulher. Vale ressaltar que das participantes do quadro de árbitros da Fifa nem todas têm o aval para estarem em competições masculinas, pois esses torneios exigem um teste físico mais rigoroso. O rigor desses testes mudaram nos últimos anos, já que até 2002 os testes exigidos pela Fifa eram mais simples e não separavam gêneros.

A partir de 2002, as exigências de preparo para arbitragem aumentaram. As provas físicas passaram a ter testes que incluem seis corridas de 40 metros, seguidas de outras 40 corridas de 75 metros. Com o novo regulamento, diversas mulheres acabaram não conseguindo passar nos índices exigidos em torneios masculinos e ficaram restritas às competições femininas.

Mesmo longe de acontecerem mudanças nesse cenário, as mulheres conseguem pequenas conquistas. Em outubro do ano passado, a Fifa escalou Esther Staubli, árbitra suíça, para apitar a partida entre Japão x Nova Caledônia, no Mundial Sub-17 masculino.

“No futebol brasileiro, na Libertadores e na Sul-Americana é possível encontrar mulheres participando do trio de arbitragem, contudo, segundo minha observação, não tem sido uma atuação constante”, analisa Menezes.

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Mulheres na arbitragem

As memórias da participação das mulheres no esporte são curtas e raras. Na arbitragem, o que se sabe é que a primeira mulher a atuar nessa função foi a brasileira Léa Campos. A mineira se formou em Educação Física e conseguiu fazer um curso de arbitragem na década de 70, quando o futebol ainda era um esporte proibido por lei para mulheres no Brasil. Porém, Léa foi além, conseguiu licença para atuar em alguns Estados e ainda recebeu a chancela da Fifa em seu diploma em 1971.

Léa ainda apitou alguns jogos de futebol masculino no Brasil e deixou seu nome na história como possivelmente a primeira mulher a conseguir tal feito. O país do futebol só voltou a ter representação feminina na arbitragem com Silvia Regina, em 2003, ao lado das assistentes Ana Paula Oliveira e Aline Lambert. Esse trio, inclusive, chegou a apitar jogos da Série A do Brasileiro e até da Copa Sul-Americana.

Segundo dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), existem atualmente no País 132 mulheres na arbitragem, 36 árbitras, 87 assistentes e nove instrutoras. Entretanto, como árbitra principal em competições masculinas de elite no Brasil, não se vê mulheres desde Silvia Regina.


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