O teatro no Brasil, assim como a cultura em geral, tem sofrido diversos ataques e tentativas de esvaziamento. Para muitos críticos, o teatro está muito afastado da população brasileira, seja pelo preço do ingresso, localidade das salas ou por já existirem outras formas de entretenimento. Os dados comprovam o distanciamento da população com relação ao teatro: segundo o IBGE, apenas 23,4% dos municípios brasileiros possuem teatros ou salas de espetáculo e os pontos de acesso que existem atingiram a marca de 3.422 espaços, muito pouco para um país com uma extensão territorial como o nosso.
Para contextualizar o Dia Mundial do Teatro, que ocorre no próximo dia 27, e discutir a situação atual do teatro no Brasil, o Diálogos na USP, apresentado por Marcello Rollemberg, recebeu os professores Luiz Fernando Ramos — do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da USP, e crítico do jornal Folha de S. Paulo de 2008 a 2013, —, e Ferdinando Martins, pesquisador e orientador do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da USP, ex-diretor do Teatro da USP (Tusp) e atualmente fazendo parte do júri do Prêmio Shell de Teatro.
Tratando-se do teatro experimental, o professor Luiz Fernando comenta o avanço nos últimos anos, com a criação do Programa de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, que objetiva a criação de trabalhos continuados, como se vê sendo desenvolvidos pelas universidades: “Isso fez uma enorme diferença para o teatro de São Paulo, no sentido de inovar e criar novos grupos e novas perspectivas, com resultados variados e amplos, e esse crescimento foi suficientemente fortalecedor para que haja resistências, para que haja bases para resistir [aos ataques do governo].”
O Brasil também apresenta um avanço no teatro comercial — também reverenciado como “teatrão” — , como, por exemplo, os musicais importados da Broadway. Esse avanço é visto através da confiança e liberdade para que haja modificações nas montagens brasileiras, como exemplifica o professor Martins: “Quando Cats veio para São Paulo, tivemos que copiar exatamente o formato da Broadway, até mesmo nas medidas dos cenários. Já na montagem de Lazarus, com músicas compostas por David Bowie e com direção de Felipe Reaver no Brasil, a autonomia foi muito maior de recriar cenários e inclusive recriar arranjos originais que eram do David Bowie, e esse é um reconhecimento da qualidade do trabalho feito aqui no Brasil”.
Principal ferramenta de fomento à cultura do Brasil, a Lei de Incentivo à Cultura — conhecida como Lei Rouanet — também entrou no debate pelos constantes ataques. Para o professor Martins, a lei é um “mal necessário”, visto que o teatro tem enfrentado dificuldades de se manter: “O modelo em que artistas pedem financiamento ao banco e ao longo da temporada a bilheteria ia saudando as dívidas, esse modelo não existe mais e não existe em vários lugares do mundo”. Parte dessa dificuldade também é decorrente da crise de público que o teatro possui, como explica o professor Luiz Fernando: “O que podemos fazer para combater essa crise são muitas possibilidades, acho que várias devem ser tentadas simultaneamente, não só para a formação de público, mas também o próprio uso da televisão como meio de aproximar as pessoas do teatro.”
.