O colunista Guilherme Wisnik, em sua colaboração semanal para a Rádio USP, recomenda a leitura de dois livros que considera fundamentais para a compreensão do mundo contemporâneo: “24/7″ – Capitalismo tardio e os fins do sono”, do ensaísta marxista norte-americano Jonathan Crary; e “A Sociedade do Cansaço”, do autor coreano Byung-Chul Hain.
Segundo Wisnik, as duas obras levantam questões agudas e convergentes sobre a época em que vivemos. Em seu livro, Crary parte de um estudo da ciência americana sobre o comportamento dos pássaros migratórios, capazes de voarem durante uma semana inteira sem dormir. O autor faz uma analogia com o sonho das sociedades capitalistas de conseguirem criar o consumidor sem sono, um consumidor apto a consumir desenfreadamente durante as 24 horas do dia, daí o título de seu livro.
Em “A Sociedade do Cansaço”, o autor aponta a mudança de paradigma ocorrida em nossos tempos. Na época da Guerra Fria, vivíamos a era bacteriológica, em que o inimigo era uma bactéria. O problema estava no outro, portanto nada se tinha a temer, desde que não se fosse contaminado. Hoje, a ameaça do outro desapareceu e já não existe o inimigo. As patologias já não são bacteriológicas, mas neuronais – na forma de depressão, déficit de atenção e outros distúrbios da mente -, causadas pelo excesso do próprio eu contra si mesmo, imersos que estamos num ritmo contínuo de trabalho, o qual não permite pausas para o descanso e o lazer.
Para Wisnik, as obras em questão desvendam um sintoma típico da modernidade: a incapacidade das pessoas de pararem de trabalhar, porque o trabalho colonizou a própria atividade do ócio, como atestam o computador e a Internet, que estão aí para nos deixar o tempo todo conectados ao trabalho.
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