
Em pesquisa feita no Centro de Estudos da Metrópole (CEM) foram propostas métricas de desigualdade para planejamento das linhas de transporte público. Os pesquisadores analisaram que os benefícios que o transporte público deveria proporcionar aos grupos da população entre bairros e diferentes faixas de renda e raças estão mal distribuídos, com alguns projetos agravando a desigualdade.
Germán Freiberg, pesquisador no Laboratório de Análises Geoespaciais (LabGeo) da Escola Politécnica (Poli) da USP e do CEM, aponta que a pesquisa se concentrou especificamente no acesso a empregos por transporte público e impacto nas desigualdades sociais. “Vemos que a cidade pode se beneficiar, com uma economia de tempo como um todo, mas quem é que está se beneficiando disso?”

Planejamento e distribuição do transporte
Freiberg explicou que foram abordados dois momentos diferentes como base da pesquisa. Um deles aborda como neste século o planejamento de transporte ignora ou secundariza as desigualdades, por exemplo, na cidade de São Paulo. As linhas previstas (em pesquisa de 2018) priorizavam atender às demandas existentes sem considerar quem são os beneficiados. O outro recorte é uma análise de como se distribuem o impacto e o benefício das linhas de metrô.
Métricas qualitativas e quantitativas foram abordadas para a análise dessa desigualdade. Por exemplo, o estudo verificou como as pessoas têm acesso a escolas, comércios, saúde e oportunidades de emprego, avaliando a quantidade e porcentagem de empregos e de oportunidades de lazer que conseguem acessar em transporte público em cada bairro em até 30, 60 e 90 minutos.
Desigualdades sociais
O pesquisador menciona uma das maiores desigualdades: “Apenas os 30% de maior renda conseguem acessar mais do que 20% do emprego da cidade. A metade mais pobre, por exemplo, os 50% de menor renda, não acessam sequer 10% dos empregos em uma hora de transporte público. Se olharmos pelo recorte de raça e classe social, somente a população branca de classe alta consegue acessar mais do que 20% dos empregos. A população negra de classe alta tem menor acessibilidade de empregos do que a população branca, de classe média e baixa”.
A pesquisa mostra que no planejamento do transporte público de centros urbanos, tais métricas de desigualdade são ignoradas, afetando a expansão do transporte público de alta capacidade, que continua longe, insuficiente e lotado. Freiberg compara a prioridade recebida na Linha 20-Rosa ao invés da Linha 15-Prata do metrô de São Paulo: enquanto a Linha Rosa aumenta a acessibilidade média em 100%, a Linha Prata tem um impacto médio de pouco mais de 1%, mas viabiliza o acesso para bairros com uma população de menor renda.
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