
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 10% a 20% das mulheres com pré-eclâmpsia grave acabam desenvolvendo a síndrome de Hellp durante a gestação. A doença rara não tem idade para acontecer.
Fernanda Spadotto Baptista, assistente dos Grupos de Hipertensão na Gestação e de Tromboses na Gestação da Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que a sigla Hellp é um acrômio. “O primeiro H é de hemólise, o L de elevated liver enzymes, ou seja, aumento das enzimas hepáticas, e o último LP low platelet count, ou plaquetas baixas, em inglês, diminuição das plaquetas. Então Hellp syndrome é uma doença, é um agravo multissistêmico da pré-eclâmpsia. Uma paciente com pré-eclâmpsia, se não tratada e controlada adequadamente nos seus níveis pressóricos e tudo mais, pode evoluir para uma deterioração clínica em que haverá microtromboses no corpo inteiro, sistêmico, em vários órgãos, fígado, rins, cérebro, levando ao agravo multissistêmico que é a síndrome Hellp”, explica.
A síndrome
A síndrome Hellp nada mais é do que uma faceta da pré-eclâmpsia. É uma doença multifatorial que apresenta alterações genéticas, do meio e condições preexistentes, como hipertensão, diabetes, enfim, múltiplos fatores que podem levar e propiciar uma paciente a ter a pré-eclâmpsia. Ela é mais comum principalmente em pacientes jovens primigestas, que têm sua primeira gestação, e nos extremos da vida.
Pré-eclâmpsia é uma doença que, embora tenha sua origem na formação da placenta, vai se manifestar clinicamente com aumento de níveis pressóricos, inchaço e todos os sintomas associados, o risco de eclâmpsia e o risco de Hellp depois da segunda metade da gestação, ou seja, após a 20ª semana da gestação e mais comumente após a 28ª semana. Quando os sintomas aparecem, o ideal é procurar rapidamente um atendimento médico.
Sintomas e cuidados
Quando a paciente apresenta alterações visuais, dor de cabeça, dor abdominal, dor em faixa, dor no estômago, dor em faixa superior do abdômen, esse conjunto de alterações são sinais de alerta de que a pessoa possa estar evoluindo para uma eclâmpsia ou desenvolvendo uma Hellp syndrome. A paciente deve procurar auxílio em um pronto-socorro imediatamente. “Algumas doenças podem predispor a fatores de risco para a gestante, como síndrome da trombofilia, pacientes que já tiveram uma forma de pré-eclâmpsia grave, gemelidade, hipertensas crônicas, obesidade, doenças crônicas. Existem métodos e calculadoras que o pré-natalista utiliza para dizer se aquela paciente é de risco para uma pré-eclâmpsia e, como o problema é na formação da placenta, ao identificar uma paciente de risco no início do pré-natal até a 16ª semana, a intervenção possível se inicia até antes da 16ª semana.
Pacientes com ingestão baixa de cálcio são mais propensas a ter pré-eclâmpsia, tanto que virou norma técnica do Ministério da Saúde que todas as gestantes devem ser suplementadas com cálcio 1g por dia, explica a doutora Fernanda. Também é indicada a vigilância clínica dessas pacientes de risco, detectando sinais e sintomas precoces de pré-eclâmpsia para que elas possam ser adequadamente tratadas.
A Hellp syndrome e a pré-eclâmpsia grave, se não reconhecidas e tratadas adequadamente, podem levar ao óbito materno e fetal. O parto prematuro é uma das únicas formas de tratamento. Se a gestação não for interrompida, a doença continua. Se o diagnóstico for de Hellp syndrome, não há escolha. É necessário fazer o parto independentemente da idade gestacional. Se o diagnóstico for de uma pré-eclâmpsia grave com alterações laboratoriais parciais, é possível optar por internar a paciente, mantê-la sob vigilância clínica, assim como da vitalidade fetal, e tentar diminuir o nível pressórico.
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