Desabamento de igreja em Salvador reacende alerta sobre preservação do patrimônio histórico

Evento on-line promovido pelo IEA discute responsabilidades e desafios na conservação de edifícios tombados

 Publicado: 18/02/2025 às 14:05
Visão do altar de uma igreja com ornamentos dourados em toda a sua estrutura
Igreja São Francisco de Assis, em Salvador, antes do desabamento do teto – Foto: BrunoEspindola84 / Wikimedia Commons
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A preservação de patrimônios históricos já é tratada há muitos anos por grupos de pesquisa da USP e um evento on-line que acontece hoje, no Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP), tratará especificamente do desabamento do teto da Igreja de São Francisco de Assis, localizada no Centro Histórico de Salvador, Bahia. O desmoronamento aconteceu no último dia 5 de fevereiro, matando uma turista de São Paulo e ferindo outras cinco pessoas. O templo religioso é tombado como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que organizou uma força-tarefa formada por 15 servidores para prestar apoio técnico à superintendência do órgão na Bahia visando contratar obras emergenciais.

José Eduardo Ferreira Santos, pesquisador e conferencista nesse evento on-line, promovido pelo grupo de pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento do IEA-USP, explica que o problema vai além da falta de manutenção e envolve também o sentimento de pertencimento ao patrimônio cultural. “Esse patrimônio não é apenas de um grupo, é um patrimônio do Brasil. A memória nacional está ali”, assegura.

José Eduardo Ferreira Santos – Foto: Reprodução/IEA-USP

Preservação

A tragédia também revelou a fragilidade da fiscalização e da preservação dos monumentos tombados. Para Santos, a estrutura do Iphan precisa de mudanças para se tornar mais efetiva. “Desde a criação do Iphan, ele tem a função de tombar os prédios históricos e evitar modificações, mas as equipes são reduzidas e os recursos nem sempre chegam”, destacou. 

Ele ressalta ainda a relevância do momento para abrir a discussão sobre o tema: “Eu acho que a gente precisa fazer uma discussão nacional sobre quem deve cuidar desse patrimônio, porque senão a gente vai ter essa incúria que pode levar vidas a óbito, como aconteceu com a Júlia. E, na verdade, eu acho que esse encontro que a gente começa a ter agora é para abrir discussões, para entender por que nós somos um país que tem esse patrimônio construído que é respeitado pelo mundo, e que a gente precisa cuidar e definir as responsabilidades”.

A igreja

A Igreja de São Francisco de Assis, construída entre os séculos 17 e 18, simboliza a riqueza do patrimônio histórico baiano. É classificada também como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo pelas expressões singulares do movimento Barroco no Brasil. Porém, o episódio trágico levanta questões sobre a atuação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela fiscalização e manutenção desses bens. Apesar de o órgão ter anunciado recentemente essa força-tarefa para realizar obras emergenciais, a falta de recursos e pessoal para fiscalizar as inúmeras igrejas e monumentos em condições precárias é um problema recorrente. 

“Imagina uma cidade tombada com muitos patrimônios. Dificilmente você tem uma equipe que tenha a quantidade de profissionais necessária. Então, eu acho que o que está acontecendo agora tem que ser uma oportunidade para se entender que deve haver mudanças estruturais nesse órgão federal para que ele possa ser mais efetivo. Porque agora as coisas se tornam mais urgentes. Estamos em um período de mudanças climáticas, estruturas muito antigas têm que ser readaptadas, mudar telhados, fazer escoramentos. Nós temos cidades tombadas, como Cachoeira, aqui na Bahia também, que precisam desse suporte, Santa Maria da Purificação e outras”, acrescenta Santos.


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