
O luto é um processo natural e intrincado, que pode surgir em diversas situações de perda. Embora geralmente associado à morte de alguém próximo, o luto pode ser desencadeado também pelo fim de um relacionamento ou de uma amizade, levando a um profundo impacto emocional. A psicóloga Juliana Vendruscolo, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e coordenadora do Ambulatório de Luto da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), destaca que o luto pela perda de uma amizade é uma questão ainda muito negligenciada, pois frequentemente se subestima a importância desse tipo de vínculo. “Temos dificuldade de entender a amizade como um vínculo de amor ou como uma relação amorosa. Se considero o luto como o rompimento de um vínculo afetivo, naturalmente incluiria também as amizades”, aponta.

Um estudo realizado pelas universidades de Aalto, na Finlândia, e de Oxford, na Inglaterra, publicado no periódico Royal Society Open Science, revelou que os círculos de amizade tendem a diminuir após os 25 anos. Para Juliana, não há uma explicação única para essa mudança; ela depende do momento de vida que cada pessoa está atravessando. “A nossa existência é construída diariamente, mas sempre influenciada por fatores históricos e culturais. Somos homens e mulheres deste tempo, e o valor que damos à amizade na vida adulta muda, muitas vezes em favor de vínculos familiares, como os filhos, parceiros ou a família de origem”, reflete a psicóloga.
Pesar e tristeza
Segundo Juliana, os sinais de que alguém está passando pelo luto de um rompimento afetivo incluem sentimentos de pesar e tristeza. “O modo como cada pessoa lida com isso varia: algumas conseguem nomear e expressar o que sentem, enquanto outras, diante dessa tristeza, podem se assustar e afastar-se desses sentimentos.”
Para enfrentar o luto pela perda de uma amizade é essencial reconhecer o afeto que se tinha por essa pessoa e permitir que as dores desse processo se manifestem. “É importante que essas emoções possam gradualmente fazer parte do seu dia a dia, se misturando com outras alegrias e acompanhando o fluxo da vida”, orienta Juliana.
Ela também destaca a importância de nos conectarmos com nossos sentimentos e compreender que muitos dos vínculos que estabelecemos podem chegar ao fim. “Ao longo da vida, passamos por diversos processos de luto. Gosto da ideia de que não é o luto que diminui, mas sim a vida que cresce ao redor dele. Precisamos validar a importância do amor em qualquer contexto — seja por um amigo, pet, homem, mulher ou familiar —, e, ao fazer isso, também validamos a dor do rompimento desses vínculos.”
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone
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